Quando o PMDB desembarcou do governo Dilma, na antevéspera do impeachment, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso olhou para a foto dos políticos que celebravam a decisão e deixou escapar uma exclamação seguida de interrogação:
– Meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder?
Era. E a emenda, como hoje podemos constatar, piorou um soneto que já era bem ruim. Agora, com o país cada vez mais desgovernado e a população dividida entre assustados e aloprados, só nos resta imitar o julgador e apelar também por intervenção divina. Para não sobrecarregar ainda mais o Criador, podemos recorrer a Nossa Senhora Aparecida, que, afinal, é considerada padroeira do Brasil e deve ter lá as suas responsabilidades para conosco.
Sua oração mais tradicional pode muito bem ser adaptada para a situação atual. Diz o texto original: "Virgem bendita, preservai este vosso indigno servo, esta casa e seus habitantes, da peste, fome, guerra, raios, tempestades e outros perigos e males que nos possam flagelar". Acrescentemos, pois, outros males que já nos flagelam:
Senhora Madrinha, preservai esta nação e seus habitantes também da corrupção endêmica que parece não ter mais fim, da politicalha insaciável incrustada no poder, da violência cotidiana estimulada pela impunidade, da incompetência generalizada dos administradores públicos, dos fascistas de internet que ameaçam saltar para a vida real, dos impostos extorsivos sem contrapartida satisfatória para os extorquidos, da desgraça do desemprego, da precariedade do sistema de saúde, da ignorância que clama por autoritarismo, da ganância predatória do poder econômico e de outros sinistros que não cabem nesta oração. Amém.
Rezemos, pois. Porém, enquanto esperamos pelo efeito da prece, quem sabe a gente também faz a nossa parte, investigando criteriosamente os pretendentes ao poder, escolhendo com cuidado em quem votar nas próximas eleições e cumprindo adequadamente o nosso papel de cidadãos?
***
Com bicicletas substituindo os automóveis, Porto Alegre teve o seu domingo de Amsterdã, conforme registrou o repórter Itamar Melo num belo texto sobre a falta de combustível decorrente da paralisação dos caminhoneiros. Mas a Capital teve também os seus dias de Havana ou Caracas, com filas enormes nos postos de gasolina, nas revendas de gás de cozinha, e até desabastecimento de produtos em feiras e mercados – situação semelhante à de outras cidades brasileiras na semana da crise. A volta da gasolina fez as filas voltarem ao lugar de sempre: o trânsito engarrafado.
***
Pedro Pullen Parente, Parente pelo pai, Pullen pela progenitora, perdeu presidência Petrobras por promover preços proibitivos para petróleo. Planejou progresso para petroleira, porém provocou prejuízos para população. Piquetes paralisaram produção primária. País parou. Pessoas problemáticas propeliram pedras. Percebendo pandemônio, prontamente pediu para partir. Presidente prescindiu. Pior: políticos predadores pretendem prosseguir praticando pilhagem. Pobre povo.