Renato Portaluppi levantou de novo a discussão um tanto enfadonha do jogar bonito contra o jogar feio. Foi depois de seu time perder para o Bahia na Arena. O treinador gremista viu um jogo em que o Bahia atuou só por uma bola e vaticinou morte lenta do futebol brasileiro por conta da maioria que, segundo Renato, joga só pelo resultado, o que casa com a definição de jogar feio. Não foi o jogo que eu vi.
Roger Machado fez seu Bahia jogar tão bonito quanto possível no primeiro tempo. Depois do intervalo, sim, foi predominantemente reativo e fez o gol da vitória num contragolpe. O próprio Renato já aplicou no Grêmio esta estratégia na passagem anterior. Não tinha peças para jogar como gosta. Para frente.
Na época, seu meio-campo tinha Souza, Riveros e Ramiro trancando a rua no meio e o time goleava por 1 a 0. Fazer gol no Grêmio era missão ingrata. Raramente marcava mais de um gol no mesmo jogo. Naquele ano, o Cruzeiro ganhou o Brasileirão jogando bonito. Porém, combinemos, você e eu já vimos times levantando taça jogando sem nenhuma preocupação estética. Enfim, haverá dois belos no Maracanã quarta-feira (23) que vem.
E o Flamengo?
Jorge Jesus não negocia nada. O português adianta seu time para o campo adversário e joga lá. Pode ter a volta de jogadores importantes, Rafinha e Filipe Luís, mas estarão descontados. Nada de Arrascaeta. Quem o substitui joga muita bola nos seus 17 anos. Reinier não deixa quebrar a estrutura de passe e movimentação deste Flamengo que não se contenta com a vitória.
Time e torcida estão encantados com encantamento que provocam. Os jogadores se motivam e querem jogar sempre porque a onda é positiva. O Maracanã enche, os elogios sobram e a imprensa admira e retrata sem economia de adjetivos. É o combo dos sonhos. Em outros tempos, o Flamengo se sabotaria com salto doze e ficaria pelo caminho. Não parece ser o caso. Joga neste domingo (20) um clássico no Maracanã e todos os titulares aptos estarão em campo. Do outro lado, haverá um Fluminense angustiado porque não consegue abrir distância da zona do rebaixamento. A lógica projeta que o Flamengo talvez enfrente um rival disposto ao confronto físico para ter sucesso. Não estou cogitando e muito menos propondo deslealdade. Se o Fluminense for ríspido para evitar o pior, talvez o Flamengo recolha o ímpeto porque, afinal, decide vaga à decisão da Libertadores três dias depois.
Tricolor precisa de criação
O Grêmio, há uma semana, jogou bonito no Independência e "quatrilhou" o Atlético-MG. Maicon e Luan jogaram barbaridade. Três dias depois, não conseguiram repetir a performance. Descansam contra o Fortaleza e precisam estar o mais perto do ideal para que o Grêmio tenha chance real de eliminar o Flamengo.
Sem Maicon e Luan criando, prever vitória é contar com o abstrato ou com o coração, no caso dos gremistas. Em condições ideais, o Tricolor é capaz de jogar tão bonito como joga o seu rival. Para esta quarta-feira, os dois belos times de treinadores que trazem ideias bonitas de futebol não estarão completos. Nem por isso a perspectiva de jogo limpo e ofensivo diminui.
Quem for adiante, o favorito Flamengo ou o desafiante Grêmio, será um representante brasileiro na final da Libertadores digno da torcida do país inteiro. O vencedor merecerá que torcidas de outros clubes, à exceção dos rivais diretos, queiram ver um brasileiro campeão. Não fosse por generosidade ou apreço estético, existe a vaga da Libertadores 2020 que abriria no Brasileirão caso o campeão desta edição seja do Brasil.