O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), calculou mal a estratégia de demonstrar a força de seu grupo tentando derrubar a prisão do deputado Chiquinho Brazão, suspeito de mandar matar a vereadora Marielle Franco. A derrota daqueles que consideram a medida uma extrapolação das atribuições do Supremo Tribunal Federal (STF), contudo, está longe de significar uma vitória do governo, e a ideia de utilizar o caso para tentar desgastar Lira é arriscada.
Além de já depender da articulação do presidente da Câmara para fortalecer uma base frágil, o governo tem criado novas resistências com o excesso de vetos a decisões dos parlamentares. O mais recente envolve a "saidinha" de presos. Houve ampla maioria favorável à restrição do benefício na votação do projeto no Congresso, mas o presidente Lula decidiu ir contra um trecho do texto. Além da provável derrubada do veto, a medida dá munição a quem critica o governo por ser conivente com o crime.
A relação entre o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o Congresso também fica cada dia mais desgastada. O que antes era uma briga entre ele e Lira nos bastidores virou uma discussão pública. Nada mais improdutivo do que ter o principal ministro responsável pela articulação política como desafeto de quem determina a pauta de votações da Câmara.
Experiente, Lula sabe que em alguns momentos terá de enfrentar o presidente da Câmara para não ficar refém de um poder absoluto, e que a substituição de Padilha agora daria impressão de que Lira controla o Executivo.
Mas é inegável que, com a extensa lista de pendências para votação no primeiro semestre, o governo tem mais a perder do que Lira nesta disputa. A principal preocupação do presidente da Câmara é fazer sucessor no cargo, em uma disputa que irá se prolongar até o começo do ano que vem. Sem que haja sequência na regulamentação da reforma tributária, aprovação de projetos para aumento de arrecadação e outros temas que viabilizam programas do governo neste ano, Lula certamente terá prejuízos mais imediatos.