Em reunião com o presidente Lula, nesta quarta-feira (21), o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, externou a preocupação de seu governo sobre o futuro da Venezuela, tanto em relação às eleições previstas para o final do ano quanto à disputa da região de Essequibo com a Guiana. Embora a visita da autoridade norte-americana ocorra dias após a infeliz declaração de Lula comparando a guerra entre Israel e o Hamas ao Holocausto, o tema ficou em segundo plano. O motivo é simples: o Brasil é irrelevante no conflito do Oriente Médio, mas tem forte influência na América do Sul.
A postura adotada pelo Brasil sobre o regime político venezuelano sempre foi um ponto de atenção da diplomacia norte-americana. No caso de Lula, sua histórica ligação com o Chavismo e recentes declarações relativizando as ações autoritárias de Nicolás Maduro preocupam o governo de Joe Biden. Mas ainda há expectativa de que Lula possa influenciar o país vizinho a garantir a participação de observadores internacionais, e de não criar barreiras para que a oposição enfrente Maduro nas urnas.
Além dos Estados Unidos, outras potências do Ocidente repudiam a escalada autoritária de Maduro, com prisões de opositores e inabilitações políticas. É o caso de María Corina Machado, uma das principais vozes contrárias ao governo, que teve a candidatura para as eleições presidenciais barrada pelo Supremo Tribunal local em 26 de janeiro.
A investida do líder venezuelano ao território de Essequibo, que pertence à Guiana mas é alvo de uma disputa histórica, também desperta a atenção do mundo. Neste caso, o Brasil é visto como possível mediador, por isso o interesse do governo dos EUA em reforçar o posicionamento contrário a um eventual conflito.
Declaração de Lula comparando a guerra com o Holocausto
Alinhado histórico de Israel, os Estados Unidos evidentemente se opõem à declaração de Lula relacionando a guerra com o Hamas ao Holocausto. O tema não teve maior repercussão internacional, contudo, porque o Brasil está longe de ser um ator influente neste debate. Afora a evidente reação do governo israelense, os principais líderes mundiais não se deram ao trabalho de comentar o caso.
O que ainda restará a Lula com a fala desastrosa, e com certeza pode gerar muita dor de cabeça, é o desgaste político interno. Afinal, até mesmo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já cobrou retratação. A consequente crise diplomática também terá impacto inevitável na relação bilateral com Israel. Mas, pelo menos até agora, a repercussão internacional ficou longe do barulho criado no ambiente doméstico.