Quatro ex-ministros de Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela, divulgaram uma carta aberta com críticas ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. O texto pede que o Brasil seja solidário com os venezuelanos e critica as declarações de Lula em encontro com Nicolás Maduro, esta semana.
O documento foi assinado pelos ex-ministros Rodrigo Cabezas (Finanças), Héctor Navarro (Educação), Ana Elisa Osorio (Meio Ambiente) e Oly Millan (Economia Popular). Todos participaram de governos de Chávez, que presidiu a Venezuela de 1999 até morrer, em 2013.
"Sempre fomos militantes da esquerda democrática e progressista. A partir desse ideal, ousamos exigir, presidente Lula, que vossa excelência e seu governo demonstrem solidariedade e coerência com uma solução democrática para a crise política, econômica e humanitária na Venezuela", diz a carta.
Abusos
Os ex-ministros chavistas afirmam que a crise na Venezuela não é uma "narrativa construída" contra o chavismo, como disse Lula. "A deriva autoritária e antidemocrática de Maduro não responde a nenhum plano de propaganda daqueles que se opõem a ele."
Os quatro dissidentes citam processos contra Maduro por violações de direitos humanos para demonstrar o autoritarismo do regime. "Neste exato momento, há 281 presos políticos na Venezuela", disseram.
Os quatro ainda citaram o fechamentos de jornais, rádios, canais de TV e o banimento de partidos políticos por parte do Supremo Tribunal de Justiça, aparelhado pelo chavismo.
As declarações de Lula, dadas durante a cúpula com líderes sul-americanos em Brasília, no início desta semana, já haviam sido criticadas durante o encontro pelos presidentes do Chile, Gabriel Boric, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou.
— Não se pode varrer para debaixo do tapete ou fazer vista grossa sobre princípios importantes. Respeitosamente, discordo do que Lula disse — afirmou Boric.
Lacalle Pou, por sua vez, se disse surpreso com o brasileiro.
— Se há tantos grupos no mundo tentando mediar a volta da democracia plena na Venezuela, para que haja respeito aos direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com um dedo. Vamos dar o nome que tem e vamos ajudar — disse o uruguaio.
Lula reagiu às críticas e disse que foi mal interpretado.
— O que eu disse, na verdade, é que desde que Chávez tomou posse, foi construída uma narrativa em que ele é um demônio. A partir daí, começa a jogar todo mundo contra ele. Foi assim comigo, a quantidade de mentira nos meus processos. Uma narrativa vendendo uma mentira que depois ninguém conseguiu provar — disse o brasileiro.