A coluna havia suspeitado de jogada ensaiada na negativa oficial da presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na reunião de cúpula do Mercosul que começa nesta quinta-feira em Montevidéu.
Nesta manhã, Von der Leyen pousou na capital uruguaia e elevou a chance de fechamento do acordo entre a União Europeia (UE) e o bloco latino. E mais: anunciou, em rede social, que "linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista".
Na reunião dos presidentes dos países do Mercosul, que se estende até a sexta-feira (6), o Uruguai transfere a presidência para a Argentina. Contrariando temores, o porta-voz da presidência, Manoel Adorni, afirmou que Javier Milei vai defender o acerto com os europeus porque "todo acordo de livre-comércio" interessa.
Von der Leyen é chefe de governo da UE, ou seja, do Poder Executivo. E o bloco europeu acabou de trocar a chefia de Estado rotativa. Agora, a representação institucional do bloco está a cargo do presidente português Antonio Costa, que prioriza o acerto.
Especialista em comércio exterior, Welber Barral avalia que a chance é de aprovação de um acordo apenas econômico, dada a oposição da França:
— O acordo econômico precisa ser aprovado pela Comissão e pelo Parlamento. O acordo global, com a parte política, de cooperação e investimentos tem de passar por todos os parlamentos (nacionais). Esse não passaria.
O potencial parceiro do Mercosul tem regras comuns definidas pelo Parlamento Europeu, espécie de legislativo coletivo. Temas estratégicos, como acordos mais abrangentes, têm de ser chancelados em cada estrutura nacional, o que certamente não ocorreria na Assembleia Nacional da França, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil.
Ainda segundo Barral, a França ainda pode tentar barrar inclusive só a parte comercial. Neste momento, está em minoria, mas se unir esquerda e direita de mais três países importantes, poderia formar a chamada "minoria de bloqueio". Então, mesmo que Von der Leyen venha e que o acordo seja assinado, ainda há risco de repetir 2019, quando um acerto chegou a ser anunciado oficialmente, mas não avançou.
Na mensagem de Von der Leyen em rede social, ela afirma que "ambas as regiões vão se beneficiar" do acerto. A expectativa é de que o tratado permita aumento no Produto Interno Bruto (PIB) da UE ao redor de 7%, dado o acesso privilegiado - via menor tarifa - de empresa europeias ao mercado do bloco latino.
Para o Mercosul, a estimativa é de expansão de cerca de 4%, mesmo com abertura agrícola "calibrada", ou seja, limitada por cotas, conforme o texto previsto.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo