Todas as concessionárias que administram rodovias pedagiadas do Rio Grande do Sul registraram aumento do número de veículos que utilizam o pagamento automático por tags em 2024. Os dados já ultrapassam mais da metade do fluxo de veículos anual em três das cinco empresas que atuam no Estado.
As tags são adesivos codificados instalados nos para-brisas dos automóveis. Com elas, os carros cruzam as praças de pedágio em cancelas automáticas, agilizando a passagem. A taxa é descontada diretamente da conta do motorista ou vai para a fatura de um cartão de crédito.
O levantamento solicitado por Zero Hora às concessionárias aponta, de forma geral, um aumento gradual da opção dos motoristas pelo pagamento automático. Os números de 2024 são comparados aos registros de 2023 e 2022.
Uso de tags varia entre 42% e 65% do fluxo total das rodovias
O registro mais alto das tags foi apontado pela Caminhos da Serra Gaúcha (CSG), que administra a RS-122, na Serra. Ao todo, 65% dos motoristas utilizaram os adesivos codificados ao trafegar na rodovia. A estrada não possui praças de pedágios físicas, já que opera no sistema free flow, em que o veículo é identificado por meio de sensores e câmeras instaladas em pórticos ao longo do trajeto.
A CSG assumiu a rodovia estadual em 1º de fevereiro de 2023, sendo que o primeiro pórtico de free flow entrou em operação em 15 de dezembro de 2023, em Antônio Prado, e os demais cinco sistemas em 30 de março de 2024.
Por outro lado, a menor porcentagem do ano passado foi identificada nas praças da Ecosul, que ficam localizadas nas BRs 116 e 392, no sul do Estado, com 42% dos carros passando com a tag. Mesmo assim, o índice ainda representa um aumento em relação aos anos anteriores e se aproxima da metade do fluxo total. Em 2023, eram cerca de 37% dos veículos; enquanto, em 2022, eram 34%.
Nos últimos três anos, a concessionária calcula um aumento de 7,6% na adesão à pista automática por parte dos motoristas. Ou seja, mais de 1,2 milhão de veículos passaram a utilizar tags.
O número de cancelas de pagamento nas praças de pedágio da empresa varia entre seis a oito. Contudo, todas possuem duas faixas exclusivas para pagamento automático.
Segundo a concessionária, já foram realizados estudos técnicos que levam em consideração a produtividade das pistas automáticas e a projeção do aumento do tráfego. Por enquanto, não foi apontada necessidade de aumentar a oferta de cancelas para tags. Por outro lado, a Ecosul oferece ao usuário a possibilidade de aderir a uma tag própria da concessionária. O cadastro pode ser feito em bases de atendimento nas rodovias.
Análise
Os números convergem com a tese de que a ferramenta já se estabeleceu como principal alternativa de pagamento para os motoristas gaúchos. O engenheiro e consultor Luiz Afonso Senna já foi coordenador do Plano Estadual de Logística e Transportes e é especialista na área. Para ele, o fenômeno se explica na comodidade dada ao motorista.
— A principal razão para que isso aconteça é a facilidade, no sentido de não se perder tempo nas praças de pedágio. Isso é uma tendência, está acontecendo em praticamente todas as concessionárias de rodovias no Brasil. As novas concessões estão sendo propostas pelos governos já contemplando a totalidade das cobranças por pagamento automático, o que inclusive vai reduzir custos — avalia Senna.
O vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Pagamento Automático para Mobilidade (Abepam), Newton Ferrer, prevê um crescimento do método de pagamento, com base em dados de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro.
— O uso das tags não é uma surpresa. A gente já apostava nisso e achamos que vai crescer ainda mais. Os mercados mais consolidados, como Rio de Janeiro e São Paulo, rodam na faixa de 70% com o pagamento automático. Algumas estradas chegam a bater 85% com esse método.
Também diretor de Negócios e Produtos da ConectCar, empresa do ramo, o representante da Abepam observa que os clientes aderem às tags em razão das comodidades oferecidas.
— Para o cliente, é mais conveniência, mais economia, mais sustentabilidade, e depois que ele usa a primeira vez, ele não fica sem, porque percebe que pode usar em outros estados, em concessões diferentes, em estacionamentos — afirma Ferrer.
Meta ousada
Nas rodovias administradas pela CCR ViaSul, pela primeira vez, a maior parte dos motoristas que cruzaram os pedágios em um ano utilizou a tag como forma de pagamento. Ao longo de 2024, 53% do fluxo total preferiu as cancelas automáticas. Em 2023, tinham sido 46%.
A concessionária administra importantes rodovias federais do Estado: a BR-386, que liga a Região Metropolitana ao Norte do RS; a BR-448, entre Porto Alegre e Sapucaia do Sul; a BR-101, do Litoral Norte até a divisa com Santa Catarina; e o trecho da BR-290 onde está situada a freeway.
A meta da CCR é eliminar o uso do dinheiro em espécie e manter apenas formas de pagamento digitais até 2026 nas rodovias da sua concessão. Atualmente, é a empresa que mais oferece cancelas automáticas aos motoristas. Nas duas maiores praças, Gravataí e Santo Antônio da Patrulha, na freeway, existem oito faixas automáticas, um terço do total disponibilizado nesses pontos.
— Traz comodidade, traz conforto e, especialmente, redução do tempo de viagem e economia de combustível. Utilizar as tags nos veículos faz com que os nossos clientes tenham uma viagem com maior fluidez — comenta Paulo Linck, gerente de Operações CCR ViaSul.
Já na BR-386, está a única praça do Estado em que há mais cancelas automáticas do que manuais. É o caso do pedágio de Victor Graeff, no Norte do RS, onde existem quatro passagens por tag e somente uma com pagamento manual.
Enchente diminuiu movimento, mas não a adesão às tags
A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), empresa pública que administra mais de 630 quilômetros de rodovias gaúchas e 10 praças de pedágio, teve redução do fluxo nos últimos dois anos em função das enchentes, principalmente em maio de 2024.
Houve rodovias com bloqueios, e as praças da EGR ficaram um mês sem cobrança da tarifa. O pedágio de Encantado, na RS-130, segue sem cobrança até agora.
Mesmo assim, a porcentagem geral de motoristas que optam pela tag para pagamento segue aumentando anualmente. Em 2024, foi registrado um salto para 46% dos veículos, sete pontos percentuais a mais do que no ano anterior e 12 acima de 2022.
Um salto semelhante também foi sinalizado nas cinco praças de pedágio administradas pela Rota de Santa Maria na RS-287, entre a Região Central e o Vale do Taquari. Houve uma elevação de 20 pontos percentuais entre 2022 e 2024.
O ano passado registrou 57% dos motoristas com tag. Assim como no caso da CCR ViaSul, foi a primeira vez que mais da metade do fluxo anual da Rota utilizou esse meio de pagamento. Em 2023, eram 48%, enquanto 37% foram registrados em 2022.