Talvez os franceses já possam parar de protestar. Talvez seja jogada ensaiada. Mas parece ter subido no telhado a previsão de assinar o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) durante a reunião de cúpula dos países do bloco latino, no final desta semana.
Conforme o jornal Valor Econômico, a Comissão Europeia informou que sua presidente, Ursula von der Leyen, não estará em Montevidéu na quinta e na sexta-feira, quando se realiza a cúpula. A líder é chefe do Poder Executivo da UE, então está no mesmo nível dos chefes de governo que reunirão - a princípio - para a transferência da presidência temporária do Uruguai para a Argentina.
Sem a representante equivalente da outra parte, a possibilidade de um anúncio diminui. Mas dada a barulhenta oposição da França, não é impossível que a agenda de Von der Leyen "mude" de última hora para uma aparição-surpresa em Montevidéu.
— Estamos vendo de maneira positiva o desenrolar das negociações. O próprio presidente Lula já fez referência à expectativa de que tenhamos a conclusão das negociações até o final do ano — afirmou na segunda-feira o secretário Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, Mauricio Carvalho Lyrio, em entrevista sobre a expectativa da reunião em Montevidéu.
Disse, ainda, que a expectativa seria de um acordo "além do comercial". O mais provável é que essa, sim, não seja alcançada. Especialista em comércio exterior, Welber Barral disse à coluna que a chance - se ainda houver - é de um acordo apenas econômico, dada a oposição da França:
— O acordo econômico precisa ser aprovado pela Comissão e pelo Parlamento. O acordo global, com a parte política, de cooperação e investimentos tem de passar por todos os parlamentos (nacionais). Esse não passaria.
O potencial parceiro do Mercosul tem regras comuns definidas pelo Parlamento Europeu, espécie de legislativo coletivo. Temas mais estratégicos, como acordos mais abrangentes, têm de ser chancelados em cada estrutura nacional, o que certamente não ocorreria na Assembleia Nacional da França, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil.
Ainda segundo Barral, a França pode tentar barrar inclusive só a parte comercial. Neste momento, está em minoria, mas se unir esquerda e direita de mais três países importantes, poderia formar a chamada "minoria de bloqueio". Então, mesmo que Von der Leyen venha e que o acordo seja assinado, ainda há risco de repetir 2019, quando um acerto chegou a ser anunciado oficialmente, mas não avançou.