Assim que entrou no auditório do primeiro andar da Fecomércio-RS, o ex-ministro Paulo Guedes foi aplaudido. Convidado a palestrar no Fecomércio-RS Debate, Guedes chegou às 12h10min para o evento marcado para as 11h30min.
Pouco antes, o presidente da federação, Luiz Carlos Bohn, havia afirmado à coluna que pretende trazer “outros nomes como esse, até para marcar a posição da casa”. Guedes começou falando das imigrações e das guerras, que ele chamou de “desordem mundial”, depois de um longo período de progresso:
— Nunca a espécie avançou tanto como nos últimos 80 anos.
Ao diagnosticar a atual situação, foi drástico:
— O mundo está irreversivelmente rompido.
A frase foi tão impactante que ele mesmo a condicionou: disse que está falando do cenário de cinco a 10 anos à frente, não para todo o futuro da humanidade. Mas advertiu que os efeitos indesejáveis já começam a ser sentidos, “justamente do lado de cá do mundo”.
Logo no início da palestra, o ex-ministro perguntou se estava sendo gravado ou se poderia "falar livremente". Ao saber que sim, estaria sendo gravado, optou por várias citações à história da humanidade. Foi dos sumérios e fenícios à Segunda Guerra Mundial, passando pela Idade Média.
Optou por fazer críticas muito pontuais e não nominais. Chamou a América Latina de "continente perdido”, como Atlântida e atribuiu o “afundamento” à aplicação de “políticas socialistas”.
— A democracia não venceu ainda. O que venceu foi a economia de mercado — afirmou, em uma frase que poderia ser pronunciada por um crítico à esquerda das democracias liberais.
Sobre o "mundo rompido", afirmou que houve um "processo de desencaixe", perante o qual forças políticas conservadoras estão se fortalecendo.
— A guerra fria está viva, só mudou de forma. Hoje, a liderança é da China e a guerra tem novas dimensões. A geopolítica correu para o banco da frente e deixou a economia no banco de trás.
Atento às gravações, Guedes evitou declarações fortes sobre política, alegando que nunca atuou nessa área antes de ocupar o ministério e não pretende atuar depois. Mas se manifestou em forma de perguntas:
— Os impostos estão subindo ou baixando? E a inflação, está subindo ou baixando?
Mas avaliou que o Brasil está bem posicionado, apesar do que chamou de "barulho lá fora" (a disputa geopolítica). O país, argumentou, será a segurança energética e alimentar do mundo. E pode ser credenciar para receber investimentos pelos critérios nearshoring (mais próximos dos EUA), friendshoring (se mantiver boa relação com os americanos) e greenshoring (matriz enérgica limpa e condições de produzir mais no campo "sem destruir a Amazônia".
Surpreendeu ao referendar uma iniciativa do sucessor, Fernando Haddad:
— Nós estávamos formatando o imposto do super-ricos. Seria de 15% para cerca de 700 mil CPFs. O pessoal diz 'ah, mas já pago imposto na empresa'. A gente ia baixar essa cobrança. Mas se o cara pegou o dividendo e vai comprar um avião, um carrão, por favor, passa ali na Receita e paga, todo mundo está pagando.
Foi nesse momento que, outra vez, deixou escapar um comentário que talvez preferisse que não tivesse sido gravado:
— Agora, tomara que seja 30% em vez de 15%, pra deixar de ser burro.
Guedes ainda tranquilizou a plateia ao afirmar que não haverá terceira guerra mundial, que não interessa à China. Por quê? Por atrapalhar o comércio:
— Se um chinês nasce forte, já amarram um BYD nas costas dele e jogam no mar (para vender ao mundo). Se nasce fraquinho, põem uma TV de tela plana nas costas.
Ao apresentar Guedes à plateia, Bohn o apresentou como o “primeiro ministro da história recente do país a entregar redução do peso do Estado”. O ex-ministro também recebeu do Conselho Regional de Economia do RS (Corecon-RS) o prêmio de Economista do Ano.