Um dos motivos para o dólar quebrar uma barreira inédita no governo Lula e fechar acima de R$ 5,80, a R$ 5,87 na sexta-feira (1º) foi a viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad à Europa.
Claro, o problema não era a viagem em si. A ausência do número 1 da equipe econômica significava que o anúncio do esperado pacote de corte de gastos só ocorreria na próxima semana. Com o câmbio a R$ 0,032 do recorde nominal histórico - R$ R$ 5,901 em 13 maio de 2020 -, o ministério avisou, em pleno domingo, que Haddad fica. Será que, agora, o pacote sai?
Essa pergunta vai dominar as especulações no mercado financeiro nesta segunda-feira (4). Outra é se o dólar vai ou não estabelecer nova marca nominal. A segunda parece mais fácil de responder: como falta tão pouco, e o outro motivo da alta do dólar é a incerteza sobre a eleição americana, provavelmente vai.
Além de demonstrar o quanto o dólar no Brasil está Haddadependente, o episódio evidencia o quanto o mercado está ansioso para conhecer as medidas de redução de despesas. O que se quer é saber se serão suficientes para não só entregar a meta de déficit zero, mas para estabilizar a dívida, o que reduziria a pressão por alta de juro.
Na sexta-feira, além de o dólar se aproximar do recorde nominal, os juros futuros subiram até 13,2%, para uma Selic de 10,75%. Essas taxas definem o custo do financiamento para empresas, por serem usadas em crédito de longo prazo.
E, afinal, o que pode ter no conjunto de medidas? A coluna lista algumas das que estão sendo especuladas, mas adverte: nenhuma está confirmada.
Teto geral: disseminar o limite de 2,5% acima da inflação para o aumento de gastos, alinhando os obrigatórios ao arcabouço fiscal, que prevê que as despesas gerais não podem crescer mais de 2,5% acima do IPCA.
Fundeb: elevar de 30% para 60% a parcela de recursos federais do Fundeb (fundo de financiamento da educação básica) que contam para o cálculo do piso de educação.
Abono salarial: reduzir o alcance do benefício pago a trabalhadores empregados que ganham até dois salários mínimos mensais.
Seguro-desemprego: há intenção de rever o mecanismo nesse momento em que há situação quase de pleno emprego (taxa de desocupação foi de 6,4% em setembro, a segunda menor da série histórica). A intenção de usar a multa do FGTS dos demitidos sem justa causa parece sepultada, mas é uma despesa elevada para o período.
ProAgro e o seguro-defeso (pago a pescadores durante a época da reprodução dos peixes: hoje despesas obrigatórias e precisam ser feitas mesmo em caso de redução do orçamento, passariam a ter controle de fluxo, ou seja, só haveria desembolso do valor total se houvesse folga.