Há uma escuta ilegal mais grave do que a outra? Sim, porque enquanto algumas quebram o direito à privacidade, outras têm como vítimas todos os contribuintes brasileiros.
As investigações da Operação Última Milha toparam com áudio de reunião, em agosto de 2020, com a presença do então presidente Jair Bolsonaro, em que se discutia como anular inquérito envolvendo um de seus filhos.
O conteúdo total do áudio segue sob sigilo até o momento em que este texto foi escrito.
Essa reunião se conecta com outra ponta das investigações da Polícia Federal (PF) que alcança o ápice da gravidade - do que se conhece até agora, ao menos.
O relatório da PF identifica tentativa de "levantar podres e relações políticas" de um auditor da Receita que havia apontado movimentação ilegal de dinheiro. Christiano José Paes Leme Botelho fez o relatório que baseou investigação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) por crime de peculato.
Incide sobre funcionário público que se apropria ou desvia dinheiro, valor ou bem em razão de seu cargo. No Brasil, ganhou o apelido de "rachadinha" por envolver a retenção de parte dos salários dos funcionários de gabinetes parlamentares pelo detentor do mandato.
O auditor fez o seu trabalho: garantir que os impostos pagos tivessem a destinação correta. Como "prêmio", foi retirado do cargo que ocupava e se tornou alvo de escuta ilegal. Nesse caso, não foi a única vítima. Também foram fraudados todos os contribuintes e consumidores brasileiros.