Desde o início de 2024, havia a expectativa de que o juro básico pudesse ficar abaixo de dois dígitos neste ano. Depois, a melhor expectativa passou a ser que ficasse parado em 10,5%, onde está agora, até dezembro.
Em junho, o mês de trovão marcado pela alta do dólar embutiu uma discussão sobre a suposta necessidade de alta do juro básico que, no auge, chegou a 1,25 ponto percentual. Coincidência ou não, esse número representa todos os cortes acumulados neste ano, portanto a tese era de que a Selic teria de voltar ao patamar de dezembro de 2023.
Assim como o dólar, os juros futuros desinflaram. E com a divulgação do IPCA de junho, na quarta-feira (10) foi retomado até o debate sobre a possível volta dos cortes de juro.
Nada tão incomum no Brasil, mas ainda assim uma grande reviravolta sobre outra. Na segunda-feira (8), Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos e ex-secretário de Desenvolvimento da Indústria e Comércio no Ministério da Economia (na gestão de Paulo Guedes), tratou de dar materialidade à discussão em uma conversa com jornalistas da qual a coluna participou:
— Não sobe o juro, não. Foi apreçado no mercado futuro, mas não há necessidade. O mercado está projetando inflação maior, mas o Banco Central (BC) sabe que não precisa trazer o resultado para a meta já em 2025. As projeções para o IPCA em 2026 estão em 3%, 3,5%.
Essa estimativa considera a hipótese de o dólar se acomodar na faixa de R$ 5,30 a R$ 5,40, condicionou:
— Caso o câmbio fique em patamar mais alto, aí o BC será forçado a subir o juro, mesmo.
Conforme o economista, se o juro ficar em 10,5%, como a maioria dos economistas projeta, a "já faz o serviço". O "serviço", nesse caso, é esfriar a atividade econômica para conseguir frear a inflação.
Mas aí veio a inflação de junho, de modestos 0,21%. O resultado ficou abaixo das expectativas, em torno de 0,3%, e correspondeu a menos da metade da alta de maio, de 0,46%. Então, se a inflação já caiu, o juro também pode voltar a? Não tão cedo. Até porque no meio do caminho houve um reajuste na gasolina e no gás de cozinha nas refinarias.
Ainda há dúvidas sobre a acomodação do dólar, e também em que patamar. Para a inflação, faz diferença se será no patamar de R$ 5,30 ou de R$ 5,40. Na quarta-feira (10), o câmbio chegou a testar uma volta ao nível de R$ 5,30, o que também significaria apagar toda a pressão provocada por declarações presidenciais. Mas não sustentou.
Nesse capítulo, uma pesquisa da Quaest sobre a popularidade do governo Lula acendeu luz amarela. Uma consulta específica sobre declarações recentes do presidente pode dar combustível a outras intervenções verbais: para 90% dos entrevistados, o salário deve ser aumentado todo ano acima da inflação, para 87% os juros no Brasil são muito altos (87%) e para 67% o governo não deve satisfação ao mercado, mas aos mais pobres.
Os fatores de pressões sobre o dólar
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui com intenção de migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio.
Eleições na Europa: depois do crescimento das bancadas que questionam a União Europeia, a surpreendente vitória da esquerda nas eleições da França, com inversão de tendência em uma semana também gera incerteza. Agora, pela definição do primeiro-ministro. O presidente Emmanuel Macron confirmou Gabriel Attal no cargo, depois de um pedido de renúncia, mas é temporário, até que surja um nome da Nova Frente Popular. Macron já sinalizou que não aceita Jean-Luc Mélenchon, que comanda o França Insubmissa, um dos cinco partidos da coalizão vitoriosa, por representar a "extrema esquerda".