Com um novo recuo limitado a 0,3% no terceiro trimestre, depois da "boa notícia" de redução na mesma proporção no período anterior, o Rio Grande do Sul avança para registrar um "pibão" no ano de sua maior tragédia climática. Como entender?
Como todos os resultados surpreendentes – para o bem e para o mal –, este tem mais de um motivo. A principal é o que, exatamente, o PIB mede: é o ritmo da atividade, ou seja, o fluxo, não tudo o que já foi produzido – ou destruído – ao longo dos anos, ou seja, o estoque de capital.
Para entender melhor: a destruição de pontes e estradas pela enchente de maio não entra na conta, porque estão no "estoque" – a construção dessas estruturas fez efeito na variação do PIB da época em que foram erguidas. A mobilização para a reconstrução, sim. Exige produção, comercialização e mão de obra em determinado período do ano.
Conforme o Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), o PIB do RS acumula alta de 5,2% só nos três primeiros trimestres de 2024. Isso significa que o "pibão gaúcho" só fechará abaixo de 5% se houver novo recuo no quarto trimestre.
Esclarecimento: a apresentação do resultado do PIB do terceiro trimestre ficou para o ano seguinte - o que não é usual - porque havia luto oficial pela morte do ex-governador Alceu Collares na época originalmente prevista.
Os principais motivos do resultado
Fluxo x estoque: não entra no cálculo do PIB a destruição causada pela enchente, por se tratar de estoque de capital. Mas entram os esforços de reconstrução, que ajudam a movimentar a economia.
Base baixa: o RS enfrentou dois anos difíceis em 2022 e 2023, o que fez o PIB baixar. Agora, parte dessa alta é recuperação, ainda parcial.
Ritmo nacional: na média nacional, o PIB deve crescer 3,5% em 2024. O desempenho da economia gaúcha só destoa muito disso quando há estiagem ou recuperação de perdas com estiagem.
Doações e liberações de recursos: o RS recebeu ajuda de outros Estados para a restauração pós-dilúvio e parte significativa da liberação de recursos do governo federal vem da antecipação de benefícios que seriam pagos mais adiante.