No final de semana, surgiu a versão de que o governo Lula vai indicar o substituto de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central (BC) já em agosto. Para lembrar, o atual mandato vai ate 31 de dezembro.
Conforme o colunista do jornal O Globo Lauro Jardim, teria sido uma negociação com o próprio para que seu café não esfriasse tão cedo, mas ajudasse a conter a especulação em torno do assunto.
Essa antecipação era tão necessária que já havia sido defendida tanto pelo próprio Campos Neto, muito antes da escalada do dólar, quanto por líderes do governo no Congresso. E havia sido reforçada pela coluna assim que o câmbio ameaçou passar da barreira de R$ 5,50.
Foi uma entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva naquele momento - o da transição entre a barreira de R$ 5,40 e R$ 5,50 - que deu corda a especulações mais agudas. Quando Lula afirmou que indicaria alguém "maduro" e "calejado" para a presidência do BC, até o nome de Guido Mantega foi cogitado.
Pode ter sido uma manobra para tornar ainda mais palatável o nome do virtual substituto, o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que está na presidência durante as férias de Campos Neto. Era um dos indicados de Lula melhor vistos no mercado, mas ainda com certo levantamento de sobrancelha.
Depois da frase de Lula, virou sonho de consumo. Se essa tiver sido a intenção, saiu cara. O dólar chegou a R$ 5,665 no fechamento e a R$ 5,701 no intraday (chegou a ser negociado neste valor durante o dia, mas não fechou nesse patamar). O dólar abriu a semana em alta, mas neste meio de manhã é cotado a R$ 5,478 - longe dos extremos de alta.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Eleições na Europa: depois do crescimento das bancadas que questionam a União Europeia, a surpreendente vitória da esquerda nas eleições da França, com inversão de tendência em uma semana também gera incerteza. Agora, pela definição do primeiro-ministro. O presidente Emmanuel Macron confirmou Gabriel Attal no cargo, depois de um pedido de renúncia, mas é temporário, até que surja um nome da Nova Frente Popular. Macron já teria sinalizado que não aceita Jean-Luc Mélenchon, que comanda o França Insubmissa, um dos cinco partidos da coalizão vitoriosa, por representar a "extrema esquerda".