
Um dos mais respeitados especialistas em orçamento público do Brasil, Felipe Salto considera o anúncio de cortes de R$ 25,9 bilhões "uma boa sinalização", mas recomenda "uma agenda mais ambiciosa" para o curto prazo. Economista-chefe e sócio da gaúcha Warren, Salto já passou pela Secretaria da Fazenda e do Planejamento do Estado de São Paulo e comandou a Instituição Fiscal Independente (IFI), cuja missão é exatamente acompanhar as finanças públicas.
O corte de R$ 25,9 bilhões é suficiente?
O corte anunciado para o ano que vem está associado a revisões de gastos sociais, pelo que foi dito ontem (quarta-feira, 3), e precisa ser avaliado no detalhe, quando o governo divulgar mais informações. De todo modo, é uma boa sinalização e certamente ajuda na tarefa de promover o ajuste fiscal. Contudo, há um longo caminho para alcançarmos novamente as condições de sustentabilidade da dívida pública.
É possível obter esse resultado só com pente-fino?
Há muito desperdício e pode haver fraudes e outras questões. Não acho improvável que se consiga um montante como esse. Contudo, será preciso uma agenda mais ambiciosa para o médio prazo. O resultado primário não precisa ser apenas zerado, mas tem de voltar ao campo positivo. Sem superávits primários, no médio prazo, a dívida/PIB não retomará as condições de sustentabilidade.
Onde seria possível cortar com melhores resultados?
Para conter as despesas de forma permanente, é preciso avançar nas questões estruturais, como as indexações e vinculações. Por ora, esse debate ainda não parece introjetado pelo governo.