O mercado de câmbio havia começado o dia em leve baixa, mas inverteu a trajetória depois de uma manifestação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que o trecho mais "incendiário" acenava com "alguma coisa" a ser feita na quarta-feira (3) em Brasília.
As leituras nas mesas de operação foram das mais estapafúrdias - um totalmente desnecessário controle de capitais - até as mais específicas - haveria aumento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre movimentação cambial.
No final da manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desmentiu rumores e afirmou que a agenda da reunião com Lula será "exclusivamente fiscal". O dólar ainda teve fôlego para cruzar a fronteira dos R$ 5,70 - foi negociado a R$ 5,701 às 14h51min - mas terminou o dia estável - oscilação positiva de 0,22%, para R$ 5,665.
— O melhor a fazer é acertar a comunicação, tanto em relação à autonomia do Banco Central, como o presidente fez hoje de manhã, quanto em relação ao arcabouço fiscal. Não vejo nada fora disso. Autonomia do Banco Central e rigidez do arcabouço fiscal, é isso que vai tranquilizar as pessoas — disse Haddad.
Além de criar o suspense sobre "alguma coisa" que seria definida na quarta-feira, Lula também havia feito o que aparenta ser um discurso combinado com Haddad, dizendo que indicar presidente do BC não quer dizer interferir nas decisões técnicas do órgão.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também ajudou na tranquilização ao afirmar "o que o mercado precifica não está em sincronia com a realidade". Há dias se esperava esse tipo de sinalização de Campos Neto. A declaração também ajudou a moderar o juro futuro, que chegou a sinalizar expectativa por alta de juro básico ainda neste ano.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. Na França, a extrema -direita "antieuropeísta" venceu o primeiro turno e acentuou a dúvida sobre a posição do país que é "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco. Desde o mais recente debate entre os candidatos à presidência dos EUA, o "risco Trump" também tem aparecido no radar do mercado.