Depois da nova declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que inverteu o sinal do dólar e incendiou a imaginação do mercado, bombeiros entraram em campo. O dólar, porém, acentua a alta, ameaçando cruzar a barreira dos R$ 5,70.
Depois da declaração de Lula de que o governo precisava fazer "alguma coisa" sobre a especulação no câmbio, até um inviável e desnecessário controle de capitais - o que significaria barreiras à saída de dólares do país - havia entrado no cardápio dos rumores.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saiu de uma reunião e afirmou que a agenda da reunião mencionada pelo presidente, na quarta-feira (3), "é exclusivamente fiscal". E acrescentou:
— A melhor coisa a fazer é melhorar a comunicação — em frase para bons entendedores.
Em Sintra, Portugal, onde participa de evento do Banco Central Europeu (BCE), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que "é preciso sair dessa narrativa de que o BC tem sido político". Lembrou, outra vez, que a Selic foi elevada para 13,75% ao ano em 2022, quando o presidente que o havia indicado disputava a reeleição.
— Se essa não é uma prova de que você é independente e que atuou de forma autônoma, é difícil achar outro exemplo.
Embora atitudes pessoais de Campos Neto possam ser questionadas, como o voto com a camiseta da Seleção e o jantar com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, isso não quer dizer que sua atuação como presidente do BC tenha sido política.
Outro sinal de atuação independente foi o voto favorável ao corte de 0,5 ponto percentual em agosto passado, quando o Copom havia sinalizado poda menor, de 0,25 p.p, que foi inclusive mal-recebido pelo mercado.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como as eleições para o Parlamento Europeu, que geraram antecipação de pleitos em vários países, inclusive na França, "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco.