Não foi no mesmo mês cheio, mas em menos de 30 dias o dólar quebrou quatro barreiras psicológicas: as de R$ 5,30, R$ 5,40, R$ 5,50 e, nesta segunda-feira (1º/7), a de R$ 5,60.
Havia faltado tão pouco para isso na sexta-feira anterior que era previsível que ocorreria em pouco tempo. A cotação da moeda americana ficou praticamente estável durante quase toda a manhã, mas passou a subir à tarde e fechou com alta de 1,15%, para R$ 5,653.
Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha voltado a fazer críticas à autonomia do Banco Central (BC), desta vez os analistas não creditaram o movimento diretamente à fala do presidente. Os gráficos das oscilações confirmam: Lula falou pela manhã, e a cotação só começou a empinar à tarde.
Claro, existe um acúmulo que adicionou à incerteza sobre o compromisso fiscal outra em relação ao compromisso do governo Lula com essa evolução civilizatória. Ter um BC autônomo é uma tentativa de suavizar a influência política do governo de plantão nas decisões sobre política monetária.
E embora o atual presidente do BC tenha pontualmente dado margem a questionamentos sobre sua objetividade, é bom lembrar que elevou o juro de 9,25% para 13,75% em pleno ano eleitoral de 2022. A elevação final ocorreu em 21 de setembro, às vésperas do pleito em que o presidente que o indicou para o cargo disputava mais um mandato.
No dia dos 30 anos do Plano Real, que foi bem sucedido em transformar a hiperinflação em que o país vivia até o início da década de 1990, é bom lembrar uma definição repetida por um de seus formuladores, Persio Arida:
— Há aquela história de que o Brasil vai até a beira do precipício e dá meia volta. Não pula. Há essa visão de que se a situação ficar realmente grave, os governantes agem.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como as eleições para o Parlamento Europeu, que geraram antecipação de pleitos em vários países, inclusive na França, "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco.