Em tese, o IPCA-15 de junho, também chamado de "prévia da inflação", deveria acalmar o mercado. A alta foi de 0,39%, abaixo dos 0,44% de maio, informou nesta quarta-feira (26) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e também menor do que esperava o mercado, que era em média 0,45%.
A capacidade de tranquilização, porém, ainda está em disputa nesta manhã. O dólar já abriu em alta e testando nova fronteira: por volta das 9h30min, já com o indicador conhecido, a cotação bateu em R$ 5,504. Chegou a voltar a ser negociada no patamar de R$ 5,40, mas já retomou o nível seguinte.
O que está desafiando o efeito calmante é uma nova entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que foi ao ar nesta manhã. Ao site UOL, disse que "o problema não é ter de cortar, é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação". E citou o nível de endividamento dos países da OCDE, chamado de "clube dos países ricos", do qual o Brasil ainda não faz parte, não só de fato como de direito.
O IPCA-15 tem peso neste momento de tensão no mercado por ter exatamente o mesmo cálculo do índice oficial, só com data de coleta de preços diferente: da metade do mês anterior para metade do mês em curso.
No resultado de junho, o que mais pesou foi, outra vez, o grupo de alimentação e bebidas, com alta de 0,98% e peso de 0,21 pontos percentuais. O que mais contribuiu para a desaceleração foi a queda no preço médio das passagens aéreas - que não vale para o RS, onde os valores subiram com a restrição de voos - de 9,87%, com retirada de 0,07 ponto percentual do indicador final.
Nesta quarta-feira, uma reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central, deve confirmar meta de inflação de 3% para 2025 e a famosa meta de inflação contínua - que se torna permanente, como nos Estados Unidos.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como as eleições para o Parlamento Europeu, que geraram antecipação de pleitos em vários países, inclusive na França, "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco.