Foi "apenas" um anúncio feito no sábado de repasses do governo federal a projetos no Estado de São Paulo. Mas a foto acima, que embalou a prestação de contas pública do evento, segue rendendo debates e especulações no âmbito político e no mercado financeiro.
Seria a definição do sucessor? Camisas vermelhas não são escolhas frequentes no figurino do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas lá estava ele, vestido com a cor do PT. E à frente do colega da Educação, Camilo Santana, e com aquele aperto de mão presidencial na foto escolhida pela secretaria da Comunicação para divulgar a iniciativa.
Dias antes, para surpresa de nenhum analista político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia afirmado que se candidatar à reeleição não seria a "primeira hipótese". A ênfase dada pela maioria dos meios de comunicação foi na segunda parte da frase, na qual admitia se candidatar para "evitar que trogloditas voltem a governar".
Outra interpretação que circula no mercado sobre a imagem é de que o foco não seria eleitoral, mas partidário. Como Haddad tem sido vítima de "fogo amigo", seria um recado para o foco do incêndio de que o ministro da Fazenda segue valorizado como integrante do partido e na linha de frente da admiração presidencial.
Nesta segunda-feira (1º), o dólar está praticamente estável (variação negativa de -0,15% no final da manhã), apesar de novas declarações de Lula contra a autonomia do Banco Central (BC). Em entrevista a uma rádio da Bahia, onde cumpre agenda, afirmou:
— O BC tem de ser um BC de uma pessoa indicada pelo presidente. Como pode o presidente da República ganhar as eleições e não poder indicar o presidente do BC. Estou há dois anos com o presidente do BC do Bolsonaro. Não é correto isso.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como as eleições para o Parlamento Europeu, que geraram antecipação de pleitos em vários países, inclusive na França, "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco.