O dólar abriu e passou boa parte da manhã em alta. Não era uma elevação forte, girava em torno de 0,5%, mas chegou a tocar a máxima de R$ 5,534 no final da manhã. Aí, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar em responsabilidade fiscal e a cotação... virou.
O início da tarde é marcado por levíssima baixa, de 0,19%, para R$ 5,476. Como nada mais mudou em relação à manhã, a fala presidencial fez preço, ainda que simbólico. Mas muito simbólico.
O mercado parece imbuído da missão de mostrar a Lula que declarações presidenciais importam. E, mais ainda, fazem preço. Em junho, o dólar arrancou da faixa de R$ 5,30 para alcançar o de R$ 5,70 durante as negociações (não fechou nesse patamar) no início de julho, muito por questionamentos à autonomia do Banco Central (BC) e à necessidade de corte de gastos - para ficar só no que realmente faz diferença, para além das críticas pessoais.
A abertura em alta havia sido atribuída ao balanço mensal da geração de empregos nos Estados Unidos. Embora em junho tenha havido a esperada desaceleração na criação de vagas - foram 206 mil, ante 218 mil em maio -, o número ficou acima do projetado.
E daí? Daí que a perspectiva de corte de juro nos EUA volta a se alongar, com menor probabilidade de que ocorra no curto prazo. Segundo analistas, ainda há um momento de ajuste no mercado de câmbio porque a quinta-feira (4) era o famoso 4 de julho, feriado nos Estados Unidos, que reduziu a participação de estrangeiros no mercado de câmbio no Brasil.
O movimento é importante para deixar claro que não há apenas um fator de pressão, mas vários. Os que criticaram a atribuição da alta do dólar às falas de Lula tiveram de reconhecer o "prêmio de risco" que as declarações embutiam, já que a mudança no discurso desinflou a cotação. E quem vê só o elemento político precisará admitir que as manifestações presidenciais não são o único motor da subida. É por isso que, ao abordar o tema do câmbio, a coluna publica o seguinte detalhamento:
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. Na França, a extrema -direita "antieuropeísta" venceu o primeiro turno e acentuou a dúvida sobre a posição do país que é "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco. Nos últimos dias, o "risco Trump" também tem aparecido no radar do mercado.