Depois de quebrar quatro barreiras psicológicas em menos de 30 dias, a moeda americana voltou duas casas em apenas dois, depois da mudança de discurso do governo Lula sobre o ajuste fiscal.
O dólar acumula queda de 3,2% porque, além da redução da véspera, de 1,71%, nesta quinta-feira (4) houve novo recuo, de 1,46%, e a moeda fechou em R$ 5,487.
O mercado respira mais aliviado, mas ainda quer ver o detalhamento das medidas citadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que resultariam em cortes de R$ 25,9 bilhões em 2025, com possibilidade de alguma redução já neste ano se houver necessidade.
Especialistas em contas públicas, como Felipe Salto, economista-chefe e sócio da Warren, veem "boa sinalização" no anúncio de Haddad, mas esperam detalhamento das medidas. Também avaliam que há necessidade de mudanças mais estruturais, com desvinculações e desindexação de despesas, que consideram ainda fora do cenário do atual governo.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. Na França, a extrema -direita "antieuropeísta" venceu o primeiro turno e acentuou a dúvida sobre a posição do país que é "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco. Desde o mais recente debate entre os candidatos à presidência dos EUA, o "risco Trump" também tem aparecido no radar do mercado.