Entre silêncios e falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o dólar fechou com queda de 1,71%, para R$ 5,568 nesta quarta-feira (3). O câmbio retornou ao patamar em que estava até a véspera, quando uma declaração de Lula provocou um dos dias mais tensos no mercado.
Sem a entrevista matinal do presidente que vinha em doses diárias, o dólar já abriu em baixa, beneficiado por sinais externos. Mas havia suspense sobre a tarde, quando Lula poderia falar duas vezes no lançamento do Plano Safra. Na primeira, depois de dizer à imprensa que, naquele momento, só falaria de "arroz e feijão", encaixou uma frase preciosa - e que fez preço - em seu pronunciamento:
– Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário, a gente gasta com educação e saúde, no que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003, e a gente manterá à risca.
Logo em seguida, o dólar aprofundou o declínio. Se faltava um sinal para o presidente de que suas palavras são, sim, combustível de estresse, não falta mais. Segundo analistas, a frase foi bem escolhida, porque, por trás da alta do dólar, o que existe é exatamente a desconfiança sobre a disposição de Lula de equilibrar as contas públicas.
Além dos silêncios e das frases de Lula, ajudou a melhorar o humor do mercado a expectativa sobre o anúncio de medidas de cortes de gastos, que pode ser feito no início da noite. Também contribuíram dados e eventos nos Estados Unidos e na França.
Nos EUA, as contratações de junho ficaram abaixo das de maio, com menor aumento salarial. Em tese, isso significa que a economia americana está menos robusta e permitiria ao menos uma redução de juro ainda neste ano. Na França, um acordo entre as duas forças politicas que perderam o primeiro turno das eleições legislativas provocou a retirada de 200 candidaturas e criou expectativa de derrota da extrema-direita no próximo domingo.
Desde esta quarta-feira (3), Lula tem um indicado na presidência do Banco Central (BC). O diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, assumiu o cargo nas férias do titular, Roberto Campos Neto, que vão até o dia 19. Esse período é uma espécie de "estágio", porque Galípolo ainda é considerado o favorito para assumir a cadeira por quatro anos, a partir de 1º de janeiro de 2025.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. Na França, a extrema -direita "antieuropeísta" venceu o primeiro turno e acentuou a dúvida sobre a posição do país que é "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco. Desde o mais recente debate entre os candidatos à presidência dos EUA, o "risco Trump" também tem aparecido no radar do mercado.