Não é qualquer declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que provoca alta no dólar. Nesta quarta-feira (3), a moeda americana já havia aberto em baixa, sob influência de indicadores externos e silêncio presidencial.
Nesta tarde, depois de uma frase de Lula usada no lançamento do Plano Safra para a agricultura familiar, o dólar aprofundou a queda. Depois de dizer à imprensa que, naquele momento, só falaria de "arroz e feijão", o presidente afirmou em seu pronunciamento:
— Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário, a gente gasta com educação e saúde, no que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003, e a gente manterá à risca.
Logo em seguida, o dólar aprofundou a queda. No meio da tarde, cai 1,9%, para R$ 5,558. Segundo analistas, a frase foi bem escolhida, porque, por trás da alta do dólar, o que existe é exatamente a desconfiança da disposição de Lula de equilibrar as contas públicas.
Desde hoje, Lula tem um indicado na presidência do Banco Central (BC). O diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, assumiu o cargo nas férias do titular, Roberto Campos Neto, que vão até o dia 19. Esse período é uma espécie de "estágio", porque Galípolo ainda é considerado o favorito para assumir a cadeira por quatro anos, a partir de 1º de janeiro de 2025.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. Na França, a extrema -direita "antieuropeísta" venceu o primeiro turno e acentuou a dúvida sobre a posição do país que é "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco. Desde o mais recente debate entre os candidatos à presidência dos EUA, o "risco Trump" também tem aparecido no radar do mercado.