O day after do dia mais tenso da rápida trajetória de alta do dólar que começou em abril e se intensificou em junho, não teve entrevista matinal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por coincidência, o dólar cai 1,7%, para R$ 5,57, segundo analistas por influência do cenário externo. Sem ruído presidencial, o mercado reage a indicadores do mercado de trabalho dos Estados Unidos, que teve dados mais fracos. Em tese, isso significa que a economia americana está menos robusta e permitiria ao menos uma redução de juro ainda neste ano.
No cenário nacional, a nova queda da produção industrial tem leitura semelhante, embora tenha vindo mais suave do que as projeções do mercado. Também estão elevando o apetite por risco, no mundo todo, estratégias políticas na França que reduziriam a possibilidade de vitória da extrema-direita no segundo turno das eleições.
Atualização: abordado pela imprensa no lançamento do Plano Safra para a agricultura familiar, Lula avisou que, naquele momento, só falaria de "arroz e feijão". No entanto, pouco depois afirmou, depois de ter conversado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad:
— Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário, a gente gasta com educação e saúde, naquilo que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003. E a gente manterá à risca.
Logo em seguida, o dólar aprofundou a queda para 2%, em R$ 5,55.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. Na França, a extrema -direita "antieuropeísta" venceu o primeiro turno e acentuou a dúvida sobre a posição do país que é "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco. Desde o mais recente debate entre os candidatos à presidência dos EUA, o "risco Trump" também tem aparecido no radar do mercado.