No dia mais tenso da rápida trajetória de alta do dólar que começou em abril e se intensificou em junho, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ajudou a tranquilizar o mercado. Nesta quarta-feira (3), a cotação do dólar desinfla de forma acentuada: no meio da manhã, cai 1,2%, para R$ 5,598, segundo analistas por influência do cenário externo.
Detalhe: nesta manhã, não houve entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No auge das especulações sobre o que Lula quis dizer ao afirmar que o governo teria de fazer "alguma coisa" a ser definida nesta quarta-feira (3) em Brasília. Haddad desmentiu boatos e afirmou que a agenda seria "exclusivamente fiscal".
Nesta manhã, Haddad teve encontro com Lula no Palácio da Alvorada, sobre a qual nada vazou até agora. A reunião com agenda "exclusivamente fiscal" será no final da tarde e prometer ser longa, com grande dificuldade para produzir boas notícias.
A reunião da Junta de Execução Orçamentária (JEO) reúne Haddad e as ministras do Planejamento, Simone Tebet, e da Gestão, Esther Duek, mais o ministro da Casa Civil, Rui Costa, conhecido por fazer esforços em sentido contrário. Discreto, Costa aparece menos que Haddad mas tem muito poder, como ficou claro na mudança na presidência da Petrobras.
Assim que Haddad e Tebet admitiram cortar custos, o mercado concedeu uma trégua cambial. Depois disso, Lula foi gradualmente negando até as iniciativas mais suaves nesse sentido, em entrevistas que ficaram mais conhecidas por ataques do BC ou sugestão de intervenção.
Uma possibilidade é alguma desvinculação do salário mínimo de pagamentos da Previdência, principal despesa primária (sem contar a rolagem da dívida da União). Tebet descartou o fim da correção das aposentarias, por saber de antemão que não passaria pelo crivo presidencial. Citou a desvinculação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que Lula tratou de descartar na mesma entrevista em que questionou se era mesmo preciso cortar gastos ou se era possível resolver só com aumento na arrecadação.
O que Lula admitiu, até agora, foi passar um "pente-fino" nos benefícios - teoricamente, de forma ampla. Não deixa de ser uma concessão, porque o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, esteve a ponto de perder o cargo por adotar esse procedimento, que era considerado uma fonte de perda de popularidade presidencial.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. Na França, a extrema -direita "antieuropeísta" venceu o primeiro turno e acentuou a dúvida sobre a posição do país que é "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco. Desde o mais recente debate entre os candidatos à presidência dos EUA, o "risco Trump" também tem aparecido no radar do mercado.