O sexto corte seguido de 0,5 ponto percentual no juro básico, amplamente esperado, não foi surpresa para ninguém, mas isso não quer dizer que não houvesse suspense sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) desta quarta-feira (20).
O foco das atenções era o comunicado, especialmente no trecho que se repete desde agosto de 2023 e deu previsibilidade para a estratégia do Copom até agora: "redução de mesma magnitude nas próximas reuniões".
Das três principais especulações que havia - manter a expressão sem alterações, tirar o plural ou tirar a expressão toda -, o Copom optou pela intermediária: avisou que haverá "redução de mesma magnitude na próxima reunião". Sem plural.
Isso significa que o BC está se comprometendo a cortar a taxa Selic mais uma vez em 0,5 ponto percentual, no dia 8 de maio, mas não garante a mesma dose para a conclusão da reunião seguinte, de 19 de junho. Isso adiaria, provavelmente para 31 de julho, a reestreia do juro básico de um dígito. Se o plural tivesse sido mantido, isso poderia ocorrer em 19 de junho.
A justificativa para a posição mais cautelosa não foi a de piora no cenário, mas de ponderação: "Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária".
O que se discutia era como o mercado iria ler a mensagem. Com a inflação em desaceleração - mas sempre é bom lembrar, apenas subindo menos depois de deixar caros produtos e serviços - e a política de conta-gotas nos cortes, o Brasil contrata a manutenção do maior juro real (taxa Selic, descontada a inflação) do mundo.
Um grupo de economistas, mais ortodoxo, sustenta que a taxa alta é necessária porque o juro precisa fazer o papel que a política fiscal - com forte aumento de gastos em 2022 e 2023 - não faz: conter a economia para não gerar inflação. Outro grupo, mais focado no desenvolvimento, considera desnecessário sufocar tanto a atividade - o juro nesse patamar, como caracteriza o próprio BC, é "contracionista", ou seja, inibe negócios - com a inflação já dentro do teto da meta.
O "consenso do mercado" - a projeção da maioria dos economistas ouvidos para elaboração do boletim Focus do BC - é de que a Selic feche o ano em 9%. Em algum momento, portanto, seria necessário reduzir a velocidade dos cortes. A sinalização já começou.