Como em 2023, a economia deste ano está surpreendendo positivamente, ao menos em nível de atividade. Não é um quase-susto, como no ano passado, mas nos três primeiros meses já houve ajuste nas previsões do mercado, com um momento de inflexão nesta quarta-feira (10), com a revisão do Itaú da expectativa de crescimento do PIB para 2%.
Em teleconferência com um grupo de jornalistas, entre os quais a que assina esta coluna, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, disse ver possibilidade de que o resultado seja até "mais do que isso":
— Tivemos um começo de ano mais forte, e não foi agro. Temos nosso indicador diário de atividade econômica que mostra isso. Os dois principais motivos foram o pagamento de precatórios, que começou no final do ano passado, mas provocou efeitos neste ano, e o aumento do salário mínimo acima da inflação, que teve impacto mais intenso em março, quando as famílias usam essa renda extra para pequenas obras.
A menção ao agro se deve ao fato de que a grande surpresa do PIB de 2023 veio de forte crescimento da safra nacional, que não ocorreu no Rio Grande do Sul em decorrência da estiagem. A teleconferência ocorreu logo depois que os Estados Unidos informaram inflação ao consumidor de 0,4% em março. Como veio acima da expectativa média de 0,3%, foi considerada a pá de cal do corte de juro nos EUA em junho.
— Esse resultado aponta na direção de ter menos cortes e de começar mais tarde. Já se discutiu recessão, depois pouso suave, agora se debate se vai ter pouso na economia americana — observou Mesquita.
Em entrevista à Globonews no início desta tarde, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o adiamento quase certo do início do ciclo de baixa no Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) não resulta necessariamente em moderação das podas no Brasil. Mas lembrou do comunicado da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que só se comprometeu com mais uma redução de 0,5 ponto percentual:
— É um reflexo da incerteza.
A incerteza na área fiscal foi outro tema de alerta do Itaú, segundo Mesquita o aspecto "mais difícil" na economia neste ano. Ele manifestou preocupação com a provável mudança da meta de superávit primário para 2025, de 0,5% do PIB, para um intervalo entre zero e 0,25% e o aumento de gastos para este ano aprovado no Congresso.
— A arrecadação tem surpreendido positivamente. No ano passado, com crescimento centrado no agro, que gera pouco imposto e muita exportação, não foi tanto. Mas ainda são muitas receitas extraordinárias. Há inquietação sobre mudanças nos parâmetros da regra fiscal, no sentido de quais gastos serão contabilizados.
Atualização: O Banco Mundial também revisou para cima, de 1,3% para 1,7%, sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024. O novo número apareceu no relatório semestral para América Latina e Caribe apresentado nesta quarta-feira (10).
Leia mais na coluna de Marta Sfredo