A alta de 1,9% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre veio tão acima das expectativas que vai determinar uma onda de revisões nas projeções para o ano.
Na média, as estimativas eram de 1,2%, com os mais animados - como o Monitor do PIB da FGV - alcançando 1,6%. Mas havia apostas bastante mais cautelosas, como os 0,9% do banco Modal.
A surpresa provocou a criatividade e a autocrítica dos analistas. Rodolfo Margato, economista da XP, usou uma referência musical: "we are the sultans of soybean". A alusão ao clássico do rock Sultans of Swing, do Dire Straits, vem do fato de o principal impulso para o "pibão" ter sido a produção recorde de grãos, especialmente da soja (soybean).
Margato já projeta o PIB de 2023 entre 2% e 2,5%, ressalvando que, além do "soybean", a resiliência do consumo das famílias e o aumento das exportações ajudam a sustentar essa estimativa.
Para André Perfeito, economista com anos de experiência no mercado, o resumo da ópera é "está ruim, mas está bom". E explica:
— A boa notícia é que está ruim, ou seja, a base de comparação é tão ridiculamente baixa que crescer é quase uma ilusão estatística. Apesar de medidas recentes de sustentação da demanda, como o reajuste do salário mínimo ou Bolsa Família mais robusto, ainda não dá para dizer que foi isso que gerou o crescimento atual. Deve ter efeito mais para frente.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine, que quase cravou sua projeção para o primeiro trimestre - era de 1,83% -, vê um recheio promissor no resultado: em cálculo anualizado (caso fosse repetida ao longo de todo 2023), a absorção doméstica teve recuo de 1,95%, o que é "fortemente desinflacionário", equivalente a um "verdadeiro choque de oferta positivo".
Rafael Rondinelli, economista do Banco Modal, que havia previsto alta um ponto percentual menor - 0,9% -, apenas avisou que vai revisar a projeção para todo o ano. E observa que o resultado "reforça a atividade econômica ainda robusta e acima da expectativa no começo do ano, indicando o efeito da política fiscal expansionista implementada desde meados do ano passado e sugerindo menor potência da política monetária restritiva".
Com o resultado, o "carrego estatístico" do PIB para 2023 - o que a economia pode crescer no ano, caso não haja variação nos próximos três trimestres, é de 2,1%, conforme os economistas do Itaú Natalia Cotarelli e Matheus Felipe Fuck. Mas a expectativa é de "desaceleração da atividade econômica, com crescimento ligeiramente positivo". Ou seja, a revisão da projeção para o ano deve ficar acima desse patamar.