Oba, a atividade econômica no Brasil cresceu 3,32% em fevereiro - mais de três vezes acima da expectativa do mercado. Epa, com economia aquecida fica mais difícil domar a inflação.
Não foi só a coluna que teve de checar três vezes antes de acreditar no resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de fevereiro, que deu um salto totalmente inesperado, o maior desde 2014, antes de o país mergulhar em recessão, seguida de pandemia, seguida de recuperação parcial.
Em janeiro, o indicador havia caído 0,9% (revisão sobre a projeção inicial de 0,4%). Para o mês seguinte, não descartava nem nova ligeira queda, menor do que a do período anterior, enquanto o país discute o efeito recessivo do juro alto. Daí o tamanho da surpresa.
Entre os economistas, também reina certo estupor, especialmente por que o cálculo do IBC-Br é fechado, ou seja, o Banco Central (BC) divulga apenas o número, sem indicar causas da movimentação. A aposta majoritária para explicar a surpresa é vem do campo.
— O setor do agronegócio deve estar por trás da alta do indicador — especula (no bom sentido) Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine.
É a mesma tese de Rafael Rondinelli, economista do Banco Modal:
— O forte desempenho do IBC-Br parece estar ligado a uma boa performance do setor agropecuário.
A "suspeita" é generalizada porque, ao contrário dos demais segmentos - indústria e serviços -, o setor primário não tem acompanhamento mensal com indicadores muito conhecidos. O que se sabe é que, em fevereiro, os serviços tiveram alta de 1,1%, a enquanto a produção industrial e o varejo restrito tiveram ligeiros recuos (0,2% e 0,1%, respectivamente). O varejo ampliado teve alta de 1,7%, graças à maior venda de veículos, mas nada chegou perto de 3%.
Passada a surpresa positiva, é preciso começar a pensar em eventuais consequências nem tanto.
— Uma atividade econômica mais forte do que o incialmente esperado pode impactar negativamente as projeções de inflação e sugerir a necessidade de uma política monetária restritiva por período mais prolongado — adverte Rondinelli.
Não é uma lei irrevogável: caso tenha vindo mesmo do campo, o fator surpresa não representa aumento de demanda, principal fenômeno que o juro alto tenta conter. Mas o BC vai analisar esse dado com lupa na reunião das próximas terça e quarta-feiras, quando vai - muito provavelmente - manter a Selic atual de 13,75%. Mas aquele aceno de corte que já era esperado pode ter de esperar mais um pouco.