Uma das hipóteses que circulam para o comportamento aparentemente irracional do dono do X (ex-Twitter), Elon Musk, que comprou uma briga com o Brasil, envolve seu suposto interesse nas reservas nacionais de lítio. Esse minério, que há uma década sequer era muito conhecido, é essencial para a produção de baterias, tanto para telefones celulares quanto para carros elétricos, principal origem da fortuna do quarto bilionário do mundo.
Mas será que o acesso às reservas de lítio brasileiras valem o risco de outros negócios de Musk no Brasil? Em relação ao X, seria até possível. Mas há outra situação mais complexa, a da forte presença no país da Starlink, embora falte transparência aos acordos feitos para uso o sinal de internet distribuído pela rede de satélites.
Sem contar, é claro, o freio na regulação das redes, que o bilionário parece ter garantido com meia dúzia de posts: o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) derrubou a tramitação que já havia e adotou a mais famosa manobra protelatória da política: criou um grupo de trabalho para analisar o tema.
E as reservas de lítio? Um dos motivos da especulação é uma publicação já "antiga" de Musk sobre a Bolívia, onde estão as maiores jazidas do mundo, cobiçadas há muito tempo. Em 2020, ao responder a um tuíte (ainda era) sobre um suposto golpe dos Estados Unidos contra Evo Morales para obtenção de lítio, o bilionário respondeu "vamos dar golpe onde quisermos, lide com isso".
Essa mostra do duvidoso "humor" de Musk, aliado a sua curiosa combinação de genialidade e irracionalidade - como ilustra o caso da venda de lança-chamas - acaba realimentando os rumores de que faz qualquer coisa para obter o mineral cujo preço decolou nos últimos anos.
Em abril de 2022, ao responder a um outro ainda tuíte do World of Statistics que mostrava a decolagem do preço da tonelada de lítio da faixa de US$ 4 mil em 2012 para R$ 78 mil em 2022, o bilionário comentou que os preços estavam em "nível insano". Essa decolagem, além de ser "combustível" para carros, fez o mineral ser apelidado de "petróleo branco". Mas embora tenha se dedicado a produzir suspeitas contra si mesmo, Musk teria outros alvos preferenciais caso sua prioridade fossem reservas de lítio.
A segunda maior jazida conhecida até agora - quase empatada com a da Bolívia em volume - está aqui ao lado, na Argentina. E como a coluna já comentou, Musk tem encontro marcado com o presidente Javier Milei - de que é, digamos, ardoroso fã - no próximo sábado, em Austin, Texas. Em tese, é sobre a Tesla. Mas seus carros são movidos a lítio. O Brasil tem reservas abundantes? Tem. Mas está em um menos cobiçável 12º lugar, com uma fração das existentes em Bolívia e Argentina e atrás até do Mali.
Até agora, o efeito líquido do ataque verbal de Musk ao Brasil deu vitória ao bilionário. Conseguiu conter por mais algum tempo o chamado "efeito Bruxelas", esperado depois da primeira regulação às plataformas sociais adotada no mundo, no caso a da União Europeia. Não se trata de "censura" de ministro do Supremo Tribunal Federal, nem de presidente mantido "na coleira". Trata-se da manutenção da falta de regras em um negócio que, nos números, rivaliza com Estados nacionais.
As maiores reservas conhecidas de lítio
- 1. Bolívia | 23 milhões de toneladas
- 2. Argentina | 22 milhões de toneladas
- 3. Estados Unidos | 14 milhões de toneladas
- 4. Chile | 11 milhões de toneladas
- 5. Austrália | 8,7 milhões de toneladas
- 6. China | 6,8 milhões de toneladas
- 7. Alemanha | 3,8 milhões de toneladas
- 8. Canadá | 3 milhões de toneladas
- 9. Congo | 1 milhão de toneladas
- 10. Rússia | 1 milhão de toneladas
- 11. Mali | 890 mil toneladas
- 12. Brasil | 800 mil toneladas