Já se passava mais de uma hora da entrevista coletiva da Petrobras sobre o plano de investimentos até 2028, de US$ 102 bilhões, quando surgiu um assunto que não estava claro nas listas de projetos: a retomada da produção nacional de plataformas.
— Essa é uma política de Estado. Se for só da Petrobras, não vai ter capacidade suficiente ou o preço vai subir lá em cima. Essa não é uma corrida de 100 metros, nem uma maratona, para ir devagarinho, é uma disputa de 400 metros com barreiras — descreveu o presidente da estatal, Jean Paul Prates.
Ele afirmou que, na volta da COP28, a Petrobras quer começar o mapeamento dos estaleiros no Brasil para ajudar nas definições dessa "política de Estado". O presidente afirmou que já aumentaram as encomendas aos três que estão em operação no Brasil - Brasfels, no Rio, Jurong- Aracruz, no Espírito Santo, e o EBR, de São José do Norte - mas de forma gradual para não gerar desequilíbrios.
Mesmo cheio de cautela, Prates confirmou que há interesse em aumentar as encomendas à indústria nacional que, neste caso, "tem de ser induzida". Afirmou que hoje isso ainda faz mais sentido porque o mercado global não é mais como em 2010 ou 2012, quando abundavam fornecedores.
— Não é porque o Lula mandou. O mercado fornecedor encolheu e nós aumentamos a demanda, o que causou inflação. Os preços subiram cerca de 25% em três anos no upstream (produção e exploração de petróleo). É preciso ajudar e fomentar os fornecedores nacionais, porque na pior das hipóteses, têm a mesma jurisdição, ou seja, estão no Brasil — afirmou.
Antes, havia sido dada a informação de que a Petrobras tem 14 plataformas encomendadas nesse momento, quando o segundo maior pedido de petroleira é de cinco unidades. Nos detalhamentos feitos por diretores, também foi citado o Estaleiro Rio Grande, que faz um descomissionamento (desmontagem) da plataforma P-32. Ou seja, pelo menos duas estruturas gaúchas vão aparecer no mapeamento que vai guiar as definições da "política de Estado".
Petroquímica é essencial na transição energética
Antes, outro tema que havia provocado curiosidade no plano estratégico, a intenção de fazer aquisições no setor petroquímico, levou a conversa para a questão da negociação da Braskem. Prates reiterou a visão que havia definido em entrevista à coluna: a petroquímica será fundamental para dar estabilidade ao processo de transição energética. Ao detalhar a situação, o diretor financeiro, Sergio Caetano Leite, afirmou que estão reservados US$ 11 bilhões para comprar, mas que esses recursos não estão carimbados, ou seja, pode ir para outros projetos de reforço.
— A Petrobras está finalizando a due diligence (análise detalhada das condições) da Braskem, inclusive para fazer uma valuation (definição do preço justo) para cumprir a governança. Pode decidir comprar, ou pode decidir vender — afirmou.
Em seguida, deixou escapar:
— É muito difícil ser vendedora de um ativo tão relevante, está entre as 10 maiores do mundo.
Segundo o executivo, não há qualquer cronograma previsto para a definição, que vai depender das negociações entre a vendedora (Novonor, ex-Odebrecht, que tem 38,3% do total de ações) e a compradora (há várias propostas, entre as quais a da Adnoc, citada várias vezes de forma amistosa por Prates).
O imbróglio da Braskem
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor, novo nome de Odebrecht, que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. A empresa privada tem 38,3% do capital total da Braskem e 50,1% das ações ordinárias, enquanto a Petrobras tem 36,1% do e 47% das ordinárias. O primeiro ensaio de venda foi uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois.
Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações sobre suas despesas com indenizações a moradores, à prefeitura da capital alagoana e ao governo do Estado, mas a coluna ouviu de uma parte interessada na compra que ainda não há confiança sobre o valor estimado, hoje cerca de R$ 13 bilhões. Por isso, todas as ofertas de compra estão condicionadas a verificações adicionais, as chamadas due diligences.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo