Há dias, existe uma nuvem sobre a Petrobras. Ninguém do atual governo considerou um "crime" seu alto lucro, como fez o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas cresceu a tensão sobre a gestão da estatal. É bom lembrar que, apesar da queda de 42% no trimestre passado, o lucro da companhia ainda somou R$ 26,6 bilhões só de julho a setembro.
Começou com uma disputa interna de poder entre o presidente da companhia, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em torno da redução de preços de combustíveis, e evoluiu para detalhes sobre o plano de investimentos para o período 2024-2028, que deve ser avaliado nesta quinta-feira (23) pelo conselho de administração.
Na quarta-feira (21), Prates se reuniu com o presidente Lula, em tese para adiantar detalhes do plano, atualizado sempre a cada ano. Mas ainda que o tema do confronto com Silveira não estivesse na pauta oficial, não tinha como ficar de fora da conversa.
Em tom no mínimo deselegante - ainda que em nada comparável ao usado por Bolsonaro no passado -, Silveira publicou nas redes sociais, na sexta-feira passada (17), que estava "na hora de puxarmos a orelha de novo da Petrobras, para que ela volte à mesa e possa colocar com clareza”.
Além de usar a expressão "puxar as orelhas", que não cabe entre colegas de governo, ainda acrescentou "de novo", como se já tivesse usado esse recurso. Desnecessário explicar por que causou profundo desconforto e inconformidade na direção da estatal. Não houve resposta pública, mas surgiram até especulações sobre uma eventual demissão de Prates, já seguidas de desmentidos semioficiais.
O que se viu, nos dias subsequentes, foram versões sobre a origem do incidente. Prates teria afirmado em reunião de governo realizada há duas semanas - quando havia de fato espaço para corte nos preços dos combustíveis - que teria "boas notícias" em breve. Segundo interlocutores do presidente da Petrobras, o ministro teria tentado "tirar lasquinha" ao sugerir que estaria pressionando a estatal.
Outro nível da crise aparente é o plano estratégico. Prates já havia afirmado publicamente que seria bastante diferente dos anteriores. Uma das mudanças seria a quantia: o de 2022 previa R$ 78 bilhões em cinco anos. O atual subiria para ao menos R$ 100 bilhões. Como a estatal reduziu - ainda que pouco - a distribuição de dividendos, haveria espaço no caixa. Mas dentro do conselho de administração há resistência à parte dos projetos de transição energética, como o de construção de parques eólicos no mar, os chamados offshore.
Na estatal, os contrários são apontados como retrógrados. Os que sustentam as críticas veem excesso de concentração dos projetos no Rio Grande do Norte, Estado pelo qual Prates se elegeu senador antes de ocupara a presidência da Petrobras. Nos próximos dias, vai ficar mais claro quem saiu mais forte dessa crise.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo