Uma das maiores novidades do novo plano estratégico da Petrobras, de US$ 102 bilhões entre 2024 e 2028, é o retorno da estatal à produção de fertilizantes. A retomada vai começar pelo Paraná, onde a estatal tem uma unidade ao lado de sua refinaria, a Araucária Nitrogenados (Ansa), que está parada desde 2019.
Mas o plano inclui retomar também a famosa Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN-III), de Três Lagoas (MS), que chegou a ser vendida para uma empresa da Rússia pouco antes do ataque desse país à Ucrânia que expôs a dependência brasileira da importação de insumos.
Um dos motivos da retomada é esse mesmo: a guerra expôs o excesso de dependência do Brasil de um insumo crucial para o PIB. Basta ver que o crescimento da economia, estimado em 0,78% no início do ano agora é de 2,84%, alimentado pela produção agrícola. Outro é o fato de que a Petrobras produz a maioria dos principais insumos. O Brasil é o quarto maior consumidor - só atrás de China, Índia e Estados Unidos - e importa 80% dos fertilizantes consumidos.
No caso da Ansa, é possível andar mais rápido porque não há disputa sobre a propriedade da unidade, que está pronta e com manutenção em dia, então depende "apenas" de ser religada. O apenas vai entre aspas porque não se trata ligar um botão: é preciso fazer uma revisão geral na planta, abastecê-la e seguir uma retomada gradual para voltar a produzir. A capacidade é de 1,9 mil toneladas por dia de ureia e 1,3 mil toneladas por dia de amônia.
O plano da Petrobras inclui quatro unidades e eventuais parcerias. Uma das possibilidades é a contratação de empresas chinesas para finalizar as obras pendentes que, ao final do trabalho, podem se tornar sócios. Outra seria a conclusão, seguida da busca de associados. Esse é caso da unidade de Três Lagoas, que ainda precisa ser concluída.
Os outros dois casos são mais complexos: uma unidade na Bahia e outra em Sergipe estão arrendadas para a Unigel, empresa privada que tinha um ousado projeto de produção de hidrogênio verde, mas enfrenta dificuldades financeiras. Nesse caso, a solução ainda está pendente de um acordo. A Petrobras não descarta deixar a empresa que tem a a cessão - a propriedade segue com a estatal - operando as unidades, nem buscar outro arranjo.
— A decisão de retomar os fertilizantes não só é necessária para o Brasil do ponto de vista comercial e econômico como faz sentido no túnel da transição energética, porque vão nascer outros produtos, os fertilizantes do futuro. A Petrobras precisa ter um pedaço desse mercado para estar no jogo — afirmou o presidente da estatal, Jean Paul Prates.
Atualmente, as principais matérias-primas para os fertilizantes vêm do petróleo ou do gás natural, o que explica por que a Rússia domina esse mercado. O desafio é descarbonizar essa produção, que passa pela "ureia verde", por sua vez obtida a partir do hidrogênio verde, feito a partir de fontes de energia renovável.
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