O governo federal quer reduzir de 85% para 45% a participação de fertilizantes importados no total usado pelo país nos próximos 28 anos (até 2050). Essa é uma das metas do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), lançado nesta sexta-feira (11) após a guerra entre Rússia e Ucrânia causar uma crise no fornecimento dos insumos.
Hoje, o Brasil tem a Rússia como principal fornecedor de fertilizantes. O país recomendou a suspensão das exportações dos produtos após as sanções comerciais impostas pelo Ocidente devido ao conflito.
Apesar de o Brasil ainda não ter sido afetado e continuar recebendo carregamentos do governo russo — o que, no momento, não afetará a safra até outubro, segundo o Ministério da Agricultura —, a medida acendeu um sinal de alerta no governo federal.
A ideia do plano é minimizar a dependência externa brasileira de nutrientes como potássio, fósforo e nitrogênio usados nas lavouras. A soja, o milho e a cana-de-açúcar são as culturas que mais demandam o uso de fertilizantes, representando 73% do consumo nacional.
— Não estamos buscando a autossuficiência, mas sim a capacidade de superar desafios e preservar nossa maior riqueza: o agronegócio brasileiro — afirmou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em cerimônia no Palácio do Planalto.
Atualmente, o Brasil ocupa a quarta posição mundial, com cerca de 8% do consumo global de fertilizantes, sendo o potássio o principal nutriente utilizado pelos produtores nacionais (38%). Na sequência, aparecem o fósforo, com 33%, e o nitrogênio, com 29%. Juntos, os insumos formam a sigla NPK, utilizada no meio rural.
— Teremos a nossa dependência externa bastante reduzida — disse Tereza.
Entre as mudanças propostas pelo plano, estão o aumento da eficiência dos fertilizantes. Uma ação da Embrapa fará visitas técnicas nos principais polos agrícolas para ensinar os produtores rurais a fazer os produtos renderem mais, sem prejudicar as lavouras, o que pode gerar economia de até 20% no uso dos insumos na safra 2022/23, de acordo com o Ministério da Agricultura.
O plano ainda prevê o incentivo de uso de fertilizantes organominerais e orgânicos, incentivos a ações privada e expansão da capacidade de produção dos insumos no Brasil.
Mineração em terras indígenas
No evento, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a aprovação de um projeto de lei que regulamenta a mineração em terras indígenas, que teve sua tramitação acelerada na Câmara após o início dos conflitos no leste europeu — um requerimento de urgência foi aprovado, fazendo com que a proposta não precise passar por comissões de discussão antes de ser votada em plenário.
O governo alega que as terras indígenas são ricas em potássio, insumo usado como fertilizante na agricultura.
— Isso nada mais é que a regulamentação de dois artigos da Constituição. Ninguém está inventando nada. Estamos cumprindo a nossa Constituição. Quem, por ventura, fala ao contrário, está desinformado ou quer tumultuar o ambiente — disse Bolsonaro.
O projeto é criticado por ambientalistas e movimentos de direitos humanos e foi objeto de um protesto em Brasília, nesta semana, convocado pelo cantor Caetano Veloso com a presença de artistas.