Agora que o Brasil se inquieta sobre o fornecimento de insumos para fertilizantes, porque não se sabe se a Rússia poderá seguir exportando, dadas as sanções econômicas, uma notícia do início de fevereiro ganhou novos contornos.
Há quase um mês, a Petrobras anunciava mais um de seus "desinvestimentos": a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), em Três Lagoas (MS). Na época, o comprador apenas levantou sobrancelhas: era a russa Acron.
Enquanto a Petrobras fazia o comunicado em mercadês — "chegou a um acordo para as minutas contratuais para a venda de 100% de sua Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN-III), no município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, com o grupo russo Acron" —, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que participava de evento na cidade no mesmo dia, foi mais explícita: a venda havia sido fechada. E comemorada.
Conforme o site do governo de Mato Grosso do Sul (clique aqui para ver detalhes), apenas uma semana depois representantes da Acron desembarcaram em Campo Grande para se informar sobre incentivos fiscais com objetivo de retomar investimentos. Vice-presidente da Acron, Vladimir Kantor disse à época que a intenção era "começar a trabalhar já em julho".
Duas semanas depois, a Rússia atacou a Ucrânia, gerando risco para o suprimento de insumos para produção de fertilizantes no Brasil. Nesta semana, surgiu a dúvida se o negócio poderá ser concretizado. Como a expulsão de sete bancos russos do sistema Swift não entra em vigor antes de 10 dias, a coluna consultou a Petrobras sobre esse risco.
Atualização: a Petrobras respondeu afirmando não ter "atualização sobre o processo de venda da UFN III".
E antes das recentes dúvidas sobre a concretização do negócio, informações de mercado indicavam que a unidade deixaria de ser uma produtora de amônia e ureia para ser uma misturadora de matérias-primas... importadas da Rússia.
Mas se a linha do tempo recente é surpreendente, a pregressa também é incrível: a UFN3 foi uma das unidades de produção de fertilizantes criadas nos governos petistas. A construção iniciou em 2011. Uma década e estimados R$ 3,7 bilhões depois, segue inacabada. Deveria cortar à metade a dependência do Brasil da importação de amônia e ureia, atualmente em cerca de 90%. A matéria-prima seria o gás natural do duto Bolívia-Brasil.
Três unidades da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) que pertencem à Petrobras — a estatal decidiu sair desse mercado em 2018 — enfrentam problemas. A de Araucária (PR), que respondia por 30% da ureia e amônia nacionais, está fechada desde março de 2020. A da Bahia, que também produzia amônia e ureia, parou em 2018 e foi arrendada à Unigel, assim como a de Sergipe, em 2020. Em maio de 2021, a Unigel anunciou o início da produção de fertilizantes nitrogenados em Sergipe e sua transformação no "maior produtor de ureia do país".