O Banco Central da Rússia está impedido de negociar títulos de suas reservas internacionais, petroleiras abandonam o país, o maior banco russo decidiu sair da Europa, grandes empresas estão parando de atuar no país.
Os países desenvolvidos não engajaram exércitos na guerra, mas cercam a economia da Rússia de forma inédita, com retaliações ainda imprevisíveis.
Nesta quarta-feira (2), o Conselho Europeu aprovou a exclusão de sete russos do sistema que facilita operações financeiras internacionais, apertando o torniquete. Os desligados do Swift são VTB Bank (segundo maior da Rússia), Otkritie (sétimo), Promsvyazbank (oitavo), Sovcombank (nono), Novikombank, Rossiya Bank e Vnesheconombank (VEB).
Conforme o comunicado do Conselho Europeu (clique aqui para ver o original, em inglês), a decisão entra em vigor 10 dias depois de sua publicação no boletim oficial da União Europeia. Será aplicado a qualquer empresa, entidade ou órgão estabelecido na Rússia que tenha mais de 50% de participação desses bancos.
Mas antes da medida chamada, inclusive pelo ministro das Finanças da França, Bruno Le Mair, de "arma nuclear das sanções econômicas", a economia russa já está asfixiada. Uma das sanções mais polêmicas é o bloqueio às negociações das reservas internacionais da Rússia. Como lembrou a economista Monica de Bolle, essa blindagem funciona, mas ter US$ 630 bilhões em reservas — quase o dobro das mantidas pelo Brasil, uma economia quase do mesmo tamanho da russa — não significa ter pilhas de cédulas ou uma piscina de moedas como a do Tio Patinhas.
Reservas são formadas por títulos, principalmente de dívida soberana, ou seja, de países com moedas fortes, como Estados Unidos, Japão e China. Conforme o Instituto de Finanças Internacional (IIF na sigla em inglês), além de aumentar reservas de forma acentuada a partir de 2015, a Rússia também fez ajustes na sua composição. Reduziu a exposição a dólar e euro e aumentou as posições em ouro e renminbi, a divisa chinesa.
Com base em comparação de dados entre 2014 e junho de 2021, o IIF observa que as reservas em dólar caíram de 43% para 16% do total. Enquanto isso, as em ouro mais do que duplicaram e agora superam as baseadas em títulos dos EUA em 20%. A moeda da China respondia por 13% em junho de 2021.
Ao bloquear o uso da Rússia, os EUA punem o "país agressor" mas também descumprem seu compromisso de garantir liquidez aos títulos que emitem. Esse é apenas um dos riscos associados à estratégia. A provável retaliação russa passa pelo gás, para países europeus, e até por escalada na ofensiva militar.
Embora Vladimir Putin use a ameaça nuclear de fato, não a metafórica, desde o anúncio do ataque — "quem tentar interferir, ou ainda mais, criar ameaças para o nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências como nunca antes experimentado na história" — tem escalado o discurso.
Nesta quarta-feira (2), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que os EUA sabem que a única alternativa às sanções econômicas contra seu país é uma Terceira Guerra Mundial, que seria "uma guerra nuclear devastadora". Ao menos em público, os americanos veem esse discurso apenas como ameaça.
Entre os impactos das sanções, estão o aumento dos preços do petróleo — o barril do tipo brent encostou em US$ 113, mas neste final de manhã no Brasil está cotado a US$ 111,74 e de matérias-primas agrícolas, não só de trigo e milho, que tem Rússia e Ucrânia como grandes provedores, como grão substitutos, como a soja.
Além disso, há temor de que, sem grandes bancos russos no Swift dentro de cerca de 10 dias, países que importam produtos russos, como fertilizantes no caso do Brasil, não possam quitar a compra, portanto não consigam concretizar negócios.