Depois de muita hesitação, enfim no sábado (26) a União Europeia propôs a remoção de "um certo número de bancos russos" do Swift, sistema internacional que facilita transações financeiras.
Quase ao mesmo tempo, a Casa Branca divulgou nota em que se "compromete" a "impor medidas restritivas que impedirão o Banco Central da Rússia de utilizar as suas reservas internacionais de modo a minimizar o impacto das nossas sanções".
Como a coluna havia detalhado, e fica claro na nota do governo dos Estados Unidos, a Rússia havia se preparado cuidadosamente para enfrentar sanções "normais", quase duplicando suas reservas cambiais e triplicando a compra de ouro desde 2015, logo depois da invasão e anexação da Crimeia.
Na época, o instrumento considerado a "arma nuclear" das sanções econômicas chegou a ser discutido entre EUA e União Europeia. O então primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, avisou que se, adotado, equivaleria a uma "declaração de guerra". O ministro das Finanças de 2014, Alexei Kudrin, chegou a prever queda de 5% no PIB da Rússia caso o país fosse desligado do Swift.
Esse sistema, é bom lembrar, não executa ordens de pagamentos, mas é considerado uma espécie de "internet dos bancos". É como se os bancos que ficarem de fora tivesse de mandar cartas, em vez de WhatsApp, sobre movimentações de dinheiro. Sem o Swift, os bancos teriam de usar e-mail ou até fax, o que tornaria a comunicação mais demorada e com riscos de ficar truncada.
Segundo Mauro Rochlin, professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Switf interliga os bancos que operam no sistema internacional de transferências transnacionais.
— Se um banco ou um país inteiro não participa, fica impedido de participar do sistema bancário internacional. Não tem como receber ou fazer transferências de recursos, o que na prática significa que fica impedido de negociar.
O que existe até agora é uma declaração de intenções: a presidente da Comissão Europeia (órgão executivo do bloco, cargo equivalente a primeira-ministra ou presidente de um país), Ursula von der Leyen, anunciou uma "proposta", que deve ser aprovada e aplicada nos próximos dias. Mas se basta apertar o botão do Swift para desligar os bancos russos do sistema, por que houve tanta hesitação?
Como toda "arma nuclear", a retirada de bancos russos do Swift pode espalhar radiação no comércio global e mesmo no sistema de pagamentos internacionais. E atinge tanto as empresas russas quanto seus clientes estrangeiros, especialmente importadores de petróleo e gás, mas também trigo e milho.
— Em um mundo globalizado, as fronteiras financeiras também ficam tênues. Quanto uma ação de um país pode impactar outros e eximi-lo desse mesmo efeito que a gerou? É difícil imaginar que algum fique isento dos malefícios da globalização e só sujeito a seus benefícios — pondera Rochlin.
Para lembrar, o Swif (sigla de Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, ou Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais) é uma espécie de cooperativa de bancos, fundada na Bélgica em 1973. Por isso, considera-se "neutra", mas como segue a lei belga, deve cumprir os regulamentos da União Europeia. Reúne cerca de 11 mil instituições financeiras, de 200 países. No ano passado, movimentou em média, a cada dia, 42 milhões de mensagens.
No início do mês, quando já se discutia a possibilidade de bancos russos serem desligados do Swift, o vice-presidente do órgão legislativo da Rússia que corresponde ao Senado (Câmara Alta), Nikolai Zhuravlev, admitia que a medida seria dramática para o país — "se a Rússia for desconectada da Swift, não receberemos divisas". Mas advertia que os "compradores, principalmente países europeus, não receberão nossos produtos, como petróleo, gás, metais e outros componentes importantes".
Não por acaso, a Alemanha, que terá "grandes repercussões" com a medida, foi o último país a ser convencido da necessidade de retirar a Rússia do Swift. Mas antes de avaliar as consequências práticas da "bomba atômica" das sanções, será preciso conhecer a lista do "certo número de bancos".