"Governar é abrir estradas" foi uma frase que marcou o ex-presidente Washington Luís ainda como governador de São Paulo, há mais de cem anos. Carrega, ao mesmo tempo, a imposição da integração de um país continental, e a histórica miopia do monopólio do transporte rodoviário diante da abundância de caminhos abertos pela natureza, os rios que marcam essa mesma geografia.
Na próxima sexta-feira (11), o lançamento da terceira fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3), trará um conjunto de obras para dar uma chance às hidrovias gaúchas, antecipou o ministro da Comunicação, Paulo Pimenta, em visita ao Estado na sexta-feira passada (4).
Sim, é preciso manter cautela. Os defensores das hidrovias no Estado - que já foram poucos, hoje são muitos mais, ainda bem - muitas vezes sonharam acalentados por belos discursos e acordaram frustrados. É preciso lembrar, ainda, que as edições anteriores do PAC têm um histórico que recomenda certo ceticismo. Já abrigaram listas excessivamente ambiciosas, que criaram expectativa sem entregar realidade: levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou 343 obras federais paradas no Estado.
Quando Pimenta mencionou obras em ao menos quatro trechos de hidrovias gaúchas - entre os quais o Canal de São Gonçalo e dos rios Jacuí e Taquari -, deixou claro que o PAC vai prever apoio da iniciativa privada para conciliar obras urgentes e orçamento apertado. Estava acompanhado do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, que fez outra versão do "governar é" ao responder pergunta da coluna sobre como equilibrar pilhas de pedidos de incentivo e a disposição do colega da Fazenda, Fernando Haddad, de fechar brechas tributárias. Alckmin disse ser preciso "fazer escolhas".
Em 2023, é uma frase melhor do que a de Washignton Luís. Governar é fazer escolhas. É necessário viabilizar o uso mais racional das estradas já abertas pela natureza, que permite inclusive desafogar rodovias literalmente sobrecarregadas. O Rio Grande do Sul pode dar mais eficiência ao transporte da produção. Já tem bons exemplos, como os do transporte de madeira pelo Porto de Pelotas e de contêineres pelo Canal Santa Clara.
Só não pode esquecer, no planejamento, que rios e lagoas não são só estradas naturais: para navegar em direção do futuro, é preciso conciliar o uso como meio de transporte com o indispensável cuidado ambiental desses berços de vida.
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