A quebra dos sigilos bancário e fiscal de Jair Bolsonaro e sua mulher, Michele autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre Moraes, a pedido da Polícia Federal (PF), encerrou uma quinta-feira (17) difícil para o ex-presidente.
Além de verificar se passou pelas contas dos dois o dinheiro da venda de joias e relógios no Exterior - uma das mensagens do ex-ajudante de ordens Mauro Cid pondera que "quanto menos movimentação em conta, melhor" - uma das intenções da PF é examinar a soma de R$ 17 milhões que o ex-presidente teria recebido sob a forma de doações por Pix.
Além do valor, chamou atenção a forte reação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), à informação que consta de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Nas redes sociais, o filho do ex-presidente classificou a exposição dos dados como “assassinato de reputação”. Se fossem doações para pagar multas processuais – justificativa de Bolsonaro – não haveria motivo para indignação. Nesta sexta-feira (18), foi bem diferente a reação de Michele: "Estou em paz".
Para lembrar, segundo o relatório da Coaf, as transferências que somam R$ 17,1 milhões foram feitas entre 1º de janeiro e 4 de julho deste ano por meio de 769 mil transações. Correspondem a quase todo o valor que circulou nas contas de Bolsonaro no ano passado, de R$ 18.498.532. Os registros apontam que parte desses recursos tiveram como destino aplicações financeiras. A "vaquinha" via Pix se concentrou em junho, quando aliados publicaram nas redes sociais comprovantes de depósitos R$ 10 a R$ 1 mil.
Mesmo depois de avanços e recuos, o advogado de Mauro Cid confirma a disposição de seu cliente de dar detalhes sobre a venda e a recompra do Rolex a mando do ex-presidente. O objetivo, ficou claro, é obter atenuantes em sua própria condenação, para reduzir a pena. Para lembrar, Cid movimentou R$ 3,7 milhões entre julho de 2022 e maio deste ano - valor incompatível com sua renda.
A recompra do Rolex feita pelo advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, tem um recibo de US$ 49 mil - os R$ 300 mil que, como ironizou o auxiliar, são "devidos" a ele pelo governo brasileiro - leia-se os contribuintes. Seria necessários 12 Rolex para chegar ao valor movimentado. Ou seja, a quebra de sigilo vai muito além de Rolex & diamantes. Se quiser reduzir sua pena, Cid vai ter de explicar ao menos as movimentações que passaram pelas suas contas.
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