Não foi apenas fantasiosa a versão apresentada pelo advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro Frederick Wassef sobre a recompra do relógio Rolex cravejado de diamantes em uma loja de Miami (Flórida, EUA). Foi desrespeitosa com o contribuinte brasileiro.
Não bastasse a tentativa de atribuir a iniciativa de recompra a uma espécie de "voluntarismo mágico", sem pedidos nem apelos, Wassef ainda se deu à liberdade de fazer ironia com os pagadores de pesados impostos no Brasil ao dizer que "o governo do Brasil" lhe "deve R$ 300 mil".
Ora, como quem financia "o governo do Brasil" somos todos nós, contribuintes, não foi um deboche ao atual governo. Foi a todos os que dedicam ao Tesouro Nacional o fruto de quatro ou cinco meses por ano - o tempo equivalente à carga tributária sustentada por todos.
Sim, ele acreditou que seria uma boa estratégia de defesa desdenhar dos brasileiros que já haviam sido surrupiados de patrimônio da Presidência da República, com a venda de um presente de um governo estrangeiro.
Só depois, claro, que a Polícia Federal (PF) revelou ter a posse de um recibo assinado por ele, no valor de US$ 49 mil, pagos em dinheiro vivo, como a família para a qual trabalha costuma operar. Os R$ 300 mil da ironia equivalem, aproximadamente, à conversão do valor pago em cash e em dólares.
Esse caso merece ser acompanhado de perto por todos os que vigiam as contas públicas. Para um país com dívida de R$ 6 trilhões, R$ 300 mil pode parecer nada. O que importa, nesse caso, é a atitude reservada ao dinheiro que não é "público". É dos contribuintes. Que precisam de retorno para sua suada contribuição para o funcionamento do país. Se toda investigação precisa "seguir o dinheiro", seguir dinheiro público desviado merece atenção ainda maior.
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