Não era apenas sobre a angústia dos cidadãos brasileiros que o ex-presidente Jair Bolsonaro espalhava sua desfaçatez. Fez o mesmo com o patrimônio público.
Pelo que aponta a investigação da Polícia Federal (PF), além de patrocinar a negociação ilegal de relógios e esculturas douradas - uns com sucesso, outros não, abandonou doações à Presidência da República porque "não eram valiosas".
O conjunto de imagens, trocas de e-mail e áudios que fazem parte das provas coletadas pela PF - inclusive uma fotografia do general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, refletido em uma das caixas negociadas - é avassalador. Há tantos conteúdos embaraçosos que é difícil entender se é mais comprometedor ou mais vergonhoso.
Em uma das passagens, o ex-ajudante de ordens afirma "quanto menos movimentação em conta, melhor". Deve ter sido um mantra aprendido na convivência com a família que costumava comprar imóveis com dinheiro vivo. O contexto era a entrega de US$ 25 mil que estavam com o pai general para "o PR". Se a PF completar o sempre necessário processo de seguir o dinheiro, a menor ameaça que paira sobre o ex-PR é uma acusação de apropriação indébita de patrimônio público.
Um dos itens rastreados é um relógio da marca de luxo Patek Philippe avaliado em US$ 51 mil (cerca de R$ 250 mil na cotação atual) que teria sido recebido no Bahrein em 2021, jamais registrado como patrimônio da União, vendido a uma loja dos Estados Unidos no ano seguinte - e recomprado, a preço mais alto, pouco depois.
O fato de presentes dados à Presidência da República - e supostamente desviados com finalidade de aumento do patrimônio pessoal - terem deixado o Brasil em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) adiciona potenciais agravantes a essa suspeita. Para lembrar, o nome da operação é bíblico: Lucas, 12, 2. O versículo afirma que "nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido". Vale para tudo, vale para todos.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo