O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Depois que a Petrobras comunicou a solicitação de acesso virtual ao data room da Braskem – uma espécie de interação mais próxima que pode gerar uma futura proposta pela fatia majoritária – o governo de Alagoas divulgou nota em que manifesta “estranheza com eventuais tratativas de transferência de controle acionário da petroquímica”, sem a participação da administração estadual.
O texto ressalta que “quaisquer negociações devem obrigatoriamente envolver a gestão, visto ser o estado o maior credor da empresa”. A afirmação tem base em dívidas alegadas pela unidade da federação em razão de um desastre ambiental ocorrido há cinco anos.
“O gigante desastre foi causado pela extração de sal-gema por parte da Braskem e levou à realocação obrigatória de 17 mil imóveis; 60 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas, como que expulsas de suas vidas; 3.600 empresas foram fechadas, desempregando dez mil pessoas. Este evento danoso tornou Alagoas o maior credor, em uma dívida que supera a casa de duas dezenas de bilhões de reais, na soma de todos os atores e locais atingidos”, diz o texto.
Atualmente, a Braskem é dona de quase todo o polo petroquímico gaúcho, e está à venda, mas apesar de ter recebido propostas ainda não fechou negócio. O movimento realizado pela Petrobras na segunda-feira (10), segue as regras previstas no próprio acordo de acionistas para o eventual exercício do direito de preferência, na hipótese de alienação das ações detidas pela Novonor S.A. (antiga Odebrecht). A estatal contabiliza 47% o capital votante e 36,1% do total.
Mas por que o Estado de Alagoas cobra participação? Segundo a coluna já abordou em outras ocasiões, em 2019, a Braskem estava praticamente vendida à LyondellBasell, mas o negócio foi interrompido porque, entre outros motivos, a compradora não havia sido suficientemente informada sobre os danos provocados por mineração da empresa em Maceió (AL) no ano anterior.
CENÁRIO
O fantasma de Alagoas, que também tem na figura do senador Renan Calheiros (MDB-AL) um aliado para barrar negócios, volta a rondar a companhia. Para o diretor da consultoria do setor petroquímico Maxiquim, João Luiz Zuñeda, entretanto, a entrada da Petrobras em cena inaugura um novo capítulo para o setor petroquímico nacional.
– O papel da Petrobras sempre foi relevante para impulsionar a petroquímica brasileira. Ela idealizou e manteve participação relevante na Braskem, uma das seis maiores Petroquímicas do planeta. É a produtora de matéria-prima e sócia, portanto, qualquer passo desse tipo é importante e mostra que o que mudou na transição dos governos é a visão estratégica sobre o ativo e o setor – argumenta.
Para o especialista, jogada da Petrobras tem mais força para demarcar uma posição do que efetivamente resultar em uma estatização da Braskem. Segundo Zuñeda, a petrolífera demonstra que quer uma participação mais ativa dentro de um novo acordo de acionistas, o que, especula, poderia favorecer o ingresso de um sócio estrangeiro a despeito das intenções de dois players nacionais nos ativos.
– A Petrobras fará com que o novo dono saiba que esse seu sócio quer uma participação efetiva que pode resultar em um novo patamar para indústria petroquímica nacional estagnada há pelo menos 20 anos.