Em 2019, a Braskem estava praticamente vendida à LyondellBasell, mas o negócio foi interrompido porque, entre outros motivos, a compradora não havia sido suficientemente informada danos provocados por mineração da empresa em Maceió (AL) no ano anterior.
Agora, esse fantasma volta a rondar: o senador Renan Calheiros (MDB-AL) pretende barrar qualquer negócio caso as cerca de 200 mil pessoas afetadas não sejam indenizadas de forma definitiva.
Publicada nesta quarta-feira (5) pelo Estadão, a ameaça de Renan impacta as negociações. Não impede, necessariamente, mas ajuda a espantar eventuais interessados, especialmente estrangeiros. Combinada a uma declaração do presidente da Petrobras do final de março, tende a reforçar candidatos nacionais à compra da Braskem.
A companhia já anunciou provisão (reserva de recursos para determinada finalidade) de R$ 8,9 bilhões para bancar indenizações e outras reparações no caso do afundamento do solo de alguns bairros de Maceió que provocou rachaduras em casas e prédios. O senador diz saber desse valor, mas afirma que ainda não há "quantificação precisa", por existirem ações judiciais pulverizadas.
No início de março, a J&F - controladora da JBS - chegou a fazer uma oferta de R$ 9 bilhões pelos 50,1% da Novonor (ex-Odebrecht), que foi recusada. O valor, que corresponde ao da provisão, é menos de um terço de avaliações posteriores ao episódio. Hoje, o valor de mercado (número de ações multiplicado pela quantidade) de 100% da empresa está em torno de R$ 15 bilhões. A Novonor tem 50,1% das ações ordinárias e 38,3% do capital total da petroquímica, enquanto a Petrobras tem 47% das ações ordinárias e 36,1% do capital total.
E aí entra outro complicador: no final de março, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, afirmou que vender a fatia ainda é uma opção, mas adicionou uma hipótese de reestatização da companhia ao acrescentar:
— Podemos vender ou comprar.
Para João Luiz Zuñeda, diretor da Maxiquim, consultoria na área de petróleo e petroquímica, as circunstâncias favorecem grupos nacionais interessados na compra da Braskem:
— Há dois sócios, um precisa vender, o outro não sabe se quer ou não. A reestatização da Braskem seria um caminho muito difícil, ilógico, mas a forma de venda e a nova composição acionária podem mudar diante dessas circunstâncias. A Petrobras realmente pode ficar como sócia ou até aumentar sua fatia sem ficar com o controle.
A Novonor "precisa" vender sua fatia para tentar sair da recuperação judicial pedida em junho de 2019, logo depois do fracasso da venda. O novo cenário favoreceria um comprador nacional, que teria maior boa vontade da Petrobras e conheceria melhor os desafios do negócio para dimensionar riscos e oportunidades, avalia Zuñeda:
— Poderia entrar um sócio brasileiro, a Petrobras tende a ficar e até a Novonor pode manter uma pequena participação, como queria fazer ainda na negociação com a LyondellBasell.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo