Em pouco mais de um mês, o Brasil colheu uma melhora da perspectiva de crédito da S&P e um aumento da nota da Fitch. É evidente que a imagem da economia brasileira está melhorando no Exterior.
A terceira das agências de rating que dominam o segmento, a Moody's, já avaliava a dívida pública brasileira melhor do que as concorrentes. Agora, só falta o aumento de nota sinalizado pela S&P para que, nas três, só faltem dois degraus para o Brasil voltar ao chamado "clube dos bons pagadores".
Mas afinal, porque isso é tão importante? Mal comparando, só para ajudar na compreensão, o papel das agências de rating é semelhante ao da Serasa no Brasil. Todo brasileiro sabe que, se estiver "na Serasa", não tem acesso a crédito regular e, se precisar desesperadamente de um empréstimo, terá de recorrer a fontes menos respeitáveis, digamos assim.
O que fazem Fitch, Moody's e S&P - que respondem por cerca de 80% do mercado global de avaliações de risco - é muito parecido. O que avaliam, basicamente, é o risco de calote. Então, é fácil de entender: se o temor de inadimplência for grande, o crédito vai custar mais caro. Se é baixo, tomar ou rolar os empréstimos custará menos.
Na prática, é isso que significa a melhora do rating: o Brasil não só contrai mais financiamentos para bancar as despesas públicas como tem de estender prazos de forma contínua. Ter melhor nota de crédito permite que essas negociações ocorram com taxas mais baixas - assim como o prometido com o cadastro positivo de consumidores brasileiros.
A sopa de letrinhas e sinais das notas de crédito - que parte do AAA e vai até o D de "default", calote no linguajar do mercado financeiro - tem três grupos essenciais: o primeiro tem o que o Brasil ambiciona recuperar, o grau de investimento, que a imprensa apelidou de "clube de bons pagadores" para facilitar a compreensão.
O segundo tem o nome educado de "grau especulativo", mas apelidos depreciativos: "junk bonds", ou "títulos podres". É onde o Brasil está agora, mas é bom relativizar. Se o primeiro grupo é o "céu" e o segundo, o "purgatório", existe o terceiro, espécie de "inferno" do rating. É onde está a Argentina, que tem CCC da S&P, CA pela Moody's e CC pela Fitch.
Com nota em grau de investimento, ou seja, se voltar ao clube dos bons pagadores, o Brasil terá custo menor na rolagem da dívida, que neste ano atingiu o recorde de R$ 6 trilhões (veja comunicado do Ministério da Fazenda sobre do valor). No orçamento, é a maior despesa: no ano passado, R$ 1,9 trilhão, ou quase metade (46,3%) de tudo o que foi gasto pela União. Logo, se esse custo diminui, sobra mais para "o restante", ou seja, saúde, educação, infraestrutura.
Isso sem contar que muitos fundos de investimento bilionários de instituições de investimento com foco no longo prazo são obrigados por regras internas a comprar apenas títulos com grau de investimento. Ou seja, estar no clube dos bons pagamentos diminui custos e aumenta a entrada de investimento no Brasil. Não é à toa que é tão importante.