Um dos motivos da alta de 1,99% da bolsa e da baixa de 1,14% no dólar, nesta quarta-feira (14), foi uma decisão da S&P Global Ratings.
A empresa de análise de risco de crédito - uma das três mais reconhecidas no mundo - melhorou a perspectiva do Brasil de estável para positiva - um sinal de que pode melhorar a nota, atualmente em BB-. Isso não ocorria desde 2019.
Ao justificar a medida, a agência apontou "sinais de maior certeza sobre a estabilidade da política fiscal e monetária" e avaliou que o crescimento contínuo do PIB somado ao novo arcabouço fiscal pode resultar em "carga da dívida pública menor que a esperada, o que pode apoiar a flexibilização monetária e sustentar a posição externa líquida do país".
As agências de risco atribuem notas ao crédito a títulos públicos, e as mudanças positivas que fazem têm força para baixar o custo da renegociação desses papéis. Quando um país chega ao topo dessas notas, alcança o chamado "grau de investimento", situação cobiçada que reúne o chamado "clube de bons pagadores". O Brasil integrou esse seleto grupo entre 2008 e 2015. No entanto, foi rebaixado depois de sucessivos déficits primários, ou seja, anos seguidos com despesas maiores do que receitas.
A notícia é tão boa que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não perdeu tempo em se manifestar. Mas foi esperto: a primeira declaração foi de agradecimento ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Como era óbvio, foi questionado sobre a possibilidade de o Brasil recuperar o grau de investimento e cravou:
— O Brasil vai voltar a ter grau de investimento. Não faz sentido um país como o Brasil não ter. Não deve um dólar (o Brasil tem mais a receber do que a pagar). O que falta é voltar a crescer. Sem crescimento não há solução.
Hoje, a nota BB- deixa o Brasil a dois níveis do grau de investimento. Caso a S&P realmente venha a elevar o rating, faltaria apenas galgar um degrau para chegar ao clube dos bons pagadores. Haddad também foi questionado sobre o juro - a decisão da S&P põe corte laser na tesoura da Selic - e evitou cuidadosamente entrar em conflito com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Mas fez questão de frisar que o debate público sobre a taxa básica não pode ser interditado.