Tudo indica que não será possível aprovar o novo marco fiscal no Senado até 20 de junho. A data era uma meta porque, assim, o país teria uma regra de contenção de gastos em vigor antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
E a ambição da equipe econômica era amparar, com apoio no lado fiscal, um comunicado por escrito que sinalizasse um futuro corte no juro básico.
Mas se ainda há dúvidas sobre a possibilidade do compromisso com o desbaste da Selic por escrito, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já tem usado o repertório verbal para fazer esse aceno. Como o cargo exige, com discrição e pouca explicitação. Mas os sinais estão lá.
Em reunião com representantes no varejo - uma das atividades mais afetadas pelo juro alto -, Campos Neto afirmou que a curva dos juros futuros "tem caído bastante", o que ajuda a criar ambiente para reduzir a taxa básica "na frente":
— A curva de juros futura teve queda de quase 3% (na verdade, pontos percentuais), dependendo do prazo que você olha. Isso significa que o mercado está dando credibilidade ao que está sendo feito , o que abre espaço para atuação de política monetária na frente.
Não é pouca coisa. O presidente do BC não quis avançar no "quando" e no "quanto", mas as atribuições do cargo exigem que se comporte dessa forma. Seria um escândalo se dissesse algo como "vamos cortar 0,5 ponto percentual em 2 de agosto", como muitos economistas especializados em interpretar o "bancocentralês", esse particular idioma, interpretaram.
Essa foi a mais explícita sinalização de que o corte entrou no horizonte imediato do Copom. Não é uma gentileza, nem uma concessão. A inflação vem se comportando muito melhor do que o próprio mercado previa, quando medida pela métrica que o BC deve seguir, a do IPCA. E cálculos complementares indicam tendência de manutenção dessa trajetória.
Na terça-feira (13), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou, no seu Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda de maio, que os preços estão subindo menos em todas os tamanhos de orçamento em relação a abril. Ainda há forte desigualdade - as famílias de renda alta tiveram deflação de 0,08%, enquanto as com menores recursos enfrentaram a taxa mais elevada, de 0,33%. Mas mesmo com esse desequilíbrio, o ponto máximo caberia dentro do teto da meta, caso fosse anualizado.
Lembram daquele assovio do afiador de facas quando passa na rua? Faz tempo que não é ouvido. Mas para o BC, está voltando de algum lugar do passado, aplicado a tesoura que poda juro.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo