Um dos discursos mais eloquentes feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha eleitoral foi o de recuperar a imagem do Brasil no Exterior, profundamente deteriorada nos quatro anos anteriores.
No entanto, declinou de um dos primeiros convites para um evento internacional de grande visibilidade, o Fórum Econômico Mundial em Davos. Sua participação na COP27, é bom lembrar, ocorreu ainda na condição de candidato eleito.
Depois da barbárie quem marcou o 8 de janeiro em Brasília, chegou a circular a versão de que Lula teria ficado no Brasil por necessidade institucional, mas a decisão de não ir a Davos foi tomada muito antes.
Ainda no final de dezembro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia sido escalado para a tarefaacompanhado do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Geraldo Alckmin. A explicação para a ausência de Lula foi o simbolismo da primeira visita internacional do presidente já no cargo. Nos bastidores, circulou a informação de que Lula avaliava que o retorno do Brasil nos fóruns internacionais já teria ocorrido no Egito.
Em 3 de janeiro, o Itamaraty informou que a primeira viagem ao Exterior seria para a Argentina, como forma de sinalizar a importância da integração latino-americana para o novo governo. Lula estará na no país vizinho na próxima semana, nos dias 23 e 24, para compromissos que incluem uma reunião da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac), que está sob presidência temporária argentina.
Até o ataque à Praça dos Três Poderes, a grande pergunta que potenciais investidores internacionais tinham sobre o Brasil era sobre economia. Depois, as dúvidas mudaram de lugar. Nesse caso, a presença de Lula teria sido ainda mais importante, para reassegurar ao mundo a estabilidade intitucional do Brasil. Sobrou para Haddad e para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que cumpriram adequadamente seu papel, com discursos feitos sob medida para o evento.
Mas a presença de Lula teria dado outra dimensão à oportunidade, inclusive colhendo apoio para a rápida reação pontual ao ensaio de golpe de Estado. E teria tido a oportunidade de apagar a má impressão do último presidente brasileiro em Davos, que sequer usou todo o tempo disponível para mostrar as oportunidades do país a um público ainda não tão impactado pelas mazelas que se seguiram.