Que não haja dúvida: um tapete vermelho – com metafóricas bordas douradas – espera o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em Sharm El Sheikh, no Egito, na segunda-feira (14), onde participará da 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP-27.
Parte da expectativa positiva da comunidade ambiental se deve a ele mesmo - antes de mais nada, por ter tido Marina Silva como ministra do Meio Ambiente - , e outra boa parte é alívio com a iminente substituição do atual presidente Jair Bolsonaro.
O desmonte dos instrumentos de fiscalização ambiental, as declarações negligentes sobre preservação e quem lutava por essa meta e as estatísticas assustadoras de desmatamento na Amazônia transformaram Bolsonaro em um personagem anticlimático nos fóruns ambientais, em vários sentidos. Então, Lula chega à conferência com melhor retrospecto e o benefício de não ser Bolsonaro.
Depois de percorrer o tapete vermelho, terá de encarar a dura realidade: precisa dar sinais de como vai começar a entregar os compromissos assumidos pelo Brasil na COP26, quando o alinhamento teórico do país às ambições globais ambientais contrastava com as práticas do atual governo. O nome do jogo desta edição da conferência do clima é "implementação+".
O símbolo de adição decorre da percepção, entre as representações mais influentes na COP27, de que os compromissos assumidos até agora - e ainda longe da implementação total - não são suficientes para frear o aquecimento do planeta em 1,5ºC. Em conversas reservadas de especialistas de governos estrangeiros com jornalistas, o dado é apontado como um sinal de alerta: com o que existe até agora, a temperatura vai subir ao menos 1,8ºC.
A frase que a coluna ouviu, não de um ambientalista, mas de um diplomata, foi "precisamos não apenas implementar as promessas, mas ampliar compromissos para nos manter em janela de sobrevivência". Sim, é disso que se trata: uma janela de sobrevivência.
Visto de fora, o Brasil é saudado por ter aderido ao compromisso global de redução de 30% na emissão de metano no ano passado. Metano é um gás proveniente de "emissões bovinas" (sim, aquelas ligadas ao aparelho digestivo, na entrada e na saída). Isso significa buscar um acordo com pecuaristas que, embora já esteja muito presente na camada mais conscientizada, ainda exige convencimento nas demais.
Também há expectativa de que o Brasil se torne o primeiro país da América Latina a integrar a First Movers Coalition (algo como Coalização dos Primeiros Mobilizadores, conheça clicando aqui), criada pelo Fórum Econômico Mundial - aquele realizado anualmente em Davos - para implementar políticas ambientais nas empresas. Outra vez, há uma camada das mais conectadas, que inclusive vão apresentar seus casos na COP27, como as gaúchas Renner e Tanac, e outra que necessita de ajuda até para entender o que é preciso fazer.
Observadores internacionais cobrados pelo seu papel no freio às mudanças climáticas admitem que precisam fazer mais, mas também recomendam a jornalistas brasileiros que perguntem ao seu governo o que está sendo feito, na prática. Sinal de que é o que seus governos também vão fazer. Agora, esperando que os compromisso sejam mais do que palavras no papel.