Nesta terça-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro discursou pela primeira vez como chefe de Estado do Brasil em um outro país.
Ao falar por seis minutos no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, Bolsonaro abordou temas como abertura econômica, reforma na Organização Mundial do Comércio (OMC), redução de impostos e combate à miséria por meio da educação.
De acordo com o jornal Estado de S. Paulo, o discurso de Bolsonaro foi recebido com um misto de medo, interesse e uma certa satisfação.
Críticas
— O Brasil é um grande país. Merece alguém melhor. Ele me dá medo — disse o americano Robert Shiller, que ganhou o prêmio Nobel de economia em 2013 com um estudo sobre a precificação de investimentos.
O americano lembrou que também ouviu um discurso moderado por parte de Donald Trump, presidente dos EUA.
— Vi Viktor Orban (presidente da Hungria) em um discurso e ele também parecia moderado e razoável — apontou. Após tecer vários comentários a respeito de lideranças mais à direita no mundo, incluindo Bolsonaro, Schiller disse, rindo:
— Eu tenho que parar de falar. Não posso falar sobre o Brasil de novo.
Um banqueiro alemão, que não quis ser identificado, reclamou da falta de informações.
— Ele deu manchetes. Mas nós queremos detalhes. Talvez não haveria como pedir mais dele — ironizou.
Elogios
O presidente do conglomerado de energia e gás natural Iberdrola, José Ignacio Galán, mostrou otimismo. Ele acredita que o discurso serviu para deixar claro "o que o governo pensa".
— Sinto pelos jornalistas, que não têm muitas manchetes. Ele deu uma visão bastante técnica. Também falou de como quer as contas do país estabilizadas e, acima de tudo, que quer transformar o Brasil numa das 50 melhores lugares para se fazer negócios. Isso é fundamental para atrair parceiros — afirmou.
Ricardo Marino, chairman do Itaú na América Latina, acredita que o discurso serviu para "educar" aqueles que não conhecem o Brasil.
— Obviamente que o investidor quer saber de mais detalhes. Mas para quem não está educado sobre o Brasil, ele vê que novo ciclo chegou — disse.
— Foi genérico, ele leu. Mas passou a mensagem para educar a média daqueles que não sabem o que é o Brasil — apontou.
Análise
O analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, acredita que o presidente Jair Bolsonaro acertou nas questões que escolheu para destacar em seu discurso em Davos, como a abertura comercial e o ajuste fiscal, mas avalia que ele poderia ter sido um pouco mais incisivo nas medidas que pretende adotar para atingir esses objetivos.
— Do ponto de vista de diagnóstico, o discurso foi na direção correta. Não houve erro grosseiro. Pelo contrário, teve capacidade de sintonizar o discurso com agendas que de fato representam uma preocupação, que são atributos importantes para um país que deseja atrair poupança externa e integração econômica — disse Cortez.
Bolsonaro, no entanto, poderia ter explicado como pretende atuar, acredita o analista.
— Houve pouca ambição na descrição — disse.
De qualquer forma, considera que é natural o presidente se estender pouco na agenda econômica, uma vez que discursar sobre esse tema "não é o forte" dele.
Explicações do vice
Para o vice-presidente Hamilton Mourão, que está no exercício do cargo durante a primeira viagem internacional de Jair Bolsonaro, a fala do presidente em Davos foi "excelente e maravilhosa, de acordo com tudo aquilo estamos pensando e buscando para o nosso País". Os objetivos do governo, de acordo com Mourão, "é que todo brasileiro tenha escola, tenha acesso à saúde, ande na rua com segurança e tenha emprego e renda."
— Às vezes alguns ruídos acontecem, mas a gente não pode fugir da questão ambiental e do clima. O presidente tem plena consciência disso aí, ele deixou claro isso no discurso dele — afirmou.